Semana passada, o colunista Fabrício Gomes dissertou em sua coluna sobre o fato de o mundo virtual substituir o real no convívio interpessoal. Voltemos ao tema hoje.
Sem dúvida alguma o advento da computação e da internet transformou radicalmente o mundo em que vivemos. Eu não consigo imaginar meu trabalho, hoje, com planilhas imensas de números orçamentários em papel, por exemplo. O advento da computação e sua popularização aumentaram demais a produtividade das pessoas e permitiram a racionalização do tempo em escala nunca vista: hoje se faz muito mais atividades no mesmo tempo.
Por outro lado, com o acúmulo de atividades e a conexão o tempo todo via celular, “gadgets” diversos e pela internet os casos de stress aumentaram enormemente. Muitas vezes é o corpo dizendo que não dá para seguir este ritmo e pedindo para diminuir.
Via e-mail, Twitter e outras redes sociais estamos ligados praticamente em tempo real com todo o mundo: uma carta que levava semanas até o Japão, por exemplo, hoje via e-mail leva apenas uns poucos segundos. As movimentações financeiras hoje em sua maior parte são feitas de forma eletrônica, o que reduziu bastante a necessidade de papel moeda em termos físicos. Entre outras facilidades.
Por outro lado, o campo virtual muitas vezes torna-se uma arena onde a intolerância é a arma principal. Ofende-se, difama-se, expressam-se preconceitos e opiniões que muitas vezes constituem crimes, ou apologias ao crime. Por trás do teclado do computador escondem-se muitas vezes pacatos cidadãos em suas vidas “reais”, mas que expressam ódios inconfessáveis sob o manto da “grande rede”.
Entretanto, os blogs e as redes sociais diminuíram a manipulação por parte da grande imprensa, que não podem mais jogar com os fatos à sua mercê, adaptando-os e moldando-os a seus interesses. Estes órgãos perderam o monopólio da notícia dado o número de mini veículos que surgiram, cada qual com seus leitores, suas opiniões e suas versões dos fatos. Nas palavras do jornalista Ricardo Kotscho em entrevista a este Ouro de Tolo:
“Como velho jornalista, do tempo em que a grande imprensa imaginava ter o monopópolio dos formadores de opinião, acho ótimo que hoje o Brasil tenha milhares de blogueiros como Pedro Migão para falar o que pensam sem pedir licença a ninguém. É saudável para a jovem democracia brasileira que tenhamos cada vez mais emissores e receptores de informações e opiniões.”
Como a charge ironiza, o meio virtual também foi rastilho para as manifestações que sacudiram diversos países nos últimos meses. Apesar de sua importância ter sido em minha opinião claramente superestimada, não se pode tirar a importância da convocação via redes sociais como “catalisador” dos protestos, bem sucedidos em alguns países, nem tanto em outros.
Também há que se ter cuidado com o excesso de convívio virtual: ver um pouco o ar fresco de vez em quando e interagir com as pessoas em nossa volta é bastante salutar.
Conheço pessoas que tem Orkut, Facebook, blog – às vezes mais de um – duzentas contas de e-mail, Linkedin e outras formas de interação social. Não devem fazer outra coisa na vida.
É importante lembramos sempre que o sol brilha lá fora e que também vale a pena, muitas vezes, trazermos para a vida real amizades virtuais. Um bom exemplo são as listas de discussão por e-mail de que participo, que em seus encontros sempre trazem boas experiências.
Para o leitor ter uma idéia, eu tenho este Ouro de Tolo – que é muito mais uma “revista eletrônica” que propriamente um blog – uma conta no Orkut semi-abandonada e Twitter. Três contas de e-mail, sendo uma corporativa. Coluna em um dos mais prestigiados sites dedicados às escolas de samba. E só. Assim mesmo, tenho certa dificuldade de conciliar tudo e meus deveres de empregado, pai e outros.
O recado que passo, se o leitor me permite, é transcrever ao mundo das redes virtuais os princípios e o caráter que trazemos e portamos em nossas vidas reais.
Sim, eu sei que as gerações cada vez mais são egoístas, individualistas e aéticas. Cabe a nós mudar este quadro, mas este é assunto para outro post.
P.S. – Hoje a Portela, minha paixão, a Majestade do Samba, completa 88 anos de vida. O post de hoje seria uma louvação à escola, além de explicar algumas mudanças recentes ocorridas na agremiação, mas vai ficar para depois. Quem sabe um dia.
Platão reconheceria orgulhoso
O mundo virtual com o simbólico
De sua caverna ancestral
teclar substitui o olhar
O virtual solta o mostro que se quer
parecer
Em um ambiente protegido
Do real