Mais um sábado e mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, escrita pela colunista Anna Barros. O tema de hoje são as consequências sanitárias da tragédia ocorrida na Região serrana do Rio de Janeiro.

O risco de doenças pós-chuvas na Região Serrana do Rio
       
Após essa tragédia na região serrana do Rio de Janeiro – que atingiu Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo – com mais de 700 mortos no momento em que essa coluna é escrita, o que mais nos chama a atenção são as doenças que podem atingir a população desses lugares em decorrência da enxurrada, tais como diarreia aguda, hepatite A e leptospirose.

Essa enchente foi a nossa “tsunami”. Se entre cinco dias e três semanas a pessoa desses locais ou daqueles em que a chuva intensa castigou sua região sentir febre alta e dores pelo corpo, ela deve procurar assistência médica. As doenças acima citadas ocorrem pela contaminação da água pela chuva, principalmente com o depósito de lixo, e a leptospirose, por causa da urina do rato.

Pensamos sempre nos mortos, nos desabrigados, mas a tragédia sanitária pode ser ainda maior. Para se protegerem, as pessoas devem fazê-lo com botas, evitando pisar nas poças de água descalços ou com sandálias abertas, guarda-chuvas, e se o local de moradia for seguro, não sair de casa. E o principal: só beber água potável ou filtrada. As verduras e legumes devem ser lavados com água de boa qualidade.
        
As principais viroses são aquelas que causam diarreias, e os principais sintomas além desse primeiro citado são vômito e febre. A indicação é se hidratar e uma dieta leve a base de arroz cozido, purê de batata, frango desfiado e carne moída.
        
A leptospirose é uma doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria, a ‘Leptospira interrogans’, que penetra ativamente a pele. O rato é o agente transmissor dessa doença através de sua urina. A doença é grave e pode ser fatal. Os outros sintomas são febre alta, dores pelo corpo, dor na panturrilha e icterícia após três dias. Assim que os sintomas se manifestarem é necessário procurar um médico imediatamente.
       
A hepatite A é causada por um vírus, o da hepatite A, e é transmitida por via oral-fecal por meio de água e alimentos contaminados. Os principais sintomas são: cansaço, olhos amarelados – que são definidos no jargão médico como icterícia – e perda de apetite. A hepatite A é curável e deve ser acompanhada por um médico.
      
Foi com muito pesar que vimos o quão essas cidades estão despreparadas para chuvas de tamanha intensidade. E as autoridades? Ficam de hipocrisia e nada fazem, só prometem, e nem ao menos previnem. Um alerta de chuvas foi mandado dois dias antes do fatídico dia 11 de janeiro, quando a chuva destruiu as cidades serranas, arrasaram, devastaram, mesmo.

Se houvesse um mínimo de informação para evacuar as pessoas de suas casas, como um sistema de rádio, de menor porte, fez em Areal, próximo a Petrópolis, o número de mortos, seria bem menor. A Austrália viveu situação parecida, das mesmas proporções, e lá 27 pessoas morreram. A comparação com o nosso “tsunami” é inevitável. E os flagelados do Morro do Bumba e de Angra? Eles têm teto para morar hoje, após um ano do ocorrido? E as casas prometidas num programa de habitação decente e que os abrigassem? Nada foi feito, até hoje.
      
Além de tudo isso, o fator Natureza, não só sob a forma de chuva, mas as casas em encostas em que o desmatamento brutal as tornaram vulneráveis a um desastre natural dessa magnitude. O melhor de tudo isso, se é que possamos destacar algo positivo em meio a tanta tristeza, foi a onda de solidariedade que se viu em todos os cantos do Rio de Janeiro e de todo o Brasil que voltou os olhos para as nossas chagas.

A começar pelas redes sociais, como Facebook e Twitter, que espalharam essa onda de amor e de solidariedade. Quem quiser ajudar, procure as melhores formas de fazê-lo pois essas pessoas precisam de água mineral, remédios, roupas, velas, itens de higiene e de limpeza,  amor e apoio psicológico também, porque o trauma é muito grande pela tremenda perda que sofreram; principalmente no tocante aos parentes e vizinhos e em segundo plano no que se refere aos bens materiais.

A palavra de ordem é: reconstrução com dignidade. Os fluminenses merecem isso.”

(Foto: O Dia)

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