Neste primeiro sábado “útil” do ano, como de hábito a coluna “Sobretudo”, assinada pelo publicitário Affonso Romero.
A coluna de hoje é dedicada a assunto que tratei “de raspão” na segunda feira passada: a cobertura da imprensa na posse da nova presidente. E as consequências da indicação dos dirigentes da Rede Record (foto) como seus representantes na cerimônia de posse.
A Imprensa “republicana” e a posse presidencial
Sábado passado, dia de festa da democracia brasileira. Dilma, a primeira mulher a chegar à Presidência da República, sobe a rampa do palácio do Planalto após cerimônia de posse no Congresso.
Um Presidente operário que recebeu a faixa de seu antecessor, depois de um primeiro mandato onde obteve o direito à reeleição dado pelas urnas, depois de afastar qualquer possibilidade de aventura pela quebra do princípio de alternância no poder, desconsidera a hipótese de um terceiro mandato e passa adiante a faixa e o poder para uma mulher. Esta, igualmente consagrada pelo voto, e cujo apelo de continuidade administrativa e ideológica é referendado tão-somente pelo desejo manifesto pelo povo nas urnas.
Tudo dentro das regras republicanas, apesar dos chiliques destemperados de uma oposição de não soube fazer, durante oito anos, aquilo que se espera de uma oposição que se respeite; ou seja, um contraponto ao governo no campo das ideias e do debate político.
E que, só durante o processo eleitoral, quis diminuir a importância natural de um líder político da magnitude de um Lula colocando-lhe amarras artificiais e reinventando o papel constitucional do Presidente que, antes de tudo, é um cidadão que goza plenamente seus direitos políticos, uma liderança natural capaz de (e obrigado a) influenciar o voto.
Quiseram fazer da eleição um jogo de faz-de-conta, em que o Presidente deveria ter se postado como um magistrado, como se para este papel já não estivessem escalados os juízes da Justiça Eleitoral.
Pois a cerimônia de posse foi então a coroação de um processo justo, porque raramente a opinião pública foi tão claramente ouvida – inclusive o direito das vozes discordantes de ampla manifestação.
Este dia de festa recebeu das emissoras de televisão uma cobertura completa, seja nos programas de estúdio, matérias jornalísticas de apoio, seja nas imagens geradas pelo pool de emissoras associadas.
Mais cedo, eu, que moro em São Paulo, pude acompanhar também, principalmente pela TV Cultura, que é do Governo do Estado, uma cobertura exageradamente completa da posse do Governador Geraldo Alckmin. Às vezes, notadamente na política e no futebol, São Paulo volta a se comportar como a pequena província desimportante que já foi um dia.
Mas o inacreditável ainda estava por vir. Depois da posse local, em vez de se unir ao pool nacional, a emissora do Governo do Estado voltou à sua programação normal, partindo para um daqueles programas de música sertaneja pretensamente dita “de raiz”, seguido por um episódio de teatrinho infantil. Isso, na concepção dos programadores oficiais nomeados pelo PSDB, seria mais importante que o evento transmitido diretamente de Brasília.
A Cultura só se uniu ao pool de emissoras muito tempo depois, quando a Presidente Dilma já estava dentro do Congresso. Seria uma opção natural de programação caso a Cultura tivesse alguma programação para aquele horário; ou caso a opção pela não-transmissão integral da posse tivesse se estendido à cerimônia paulista também.
Na verdade, foi uma demonstração de um comportamente político mesquinho e pequeno por parte do tucanato, tentando destituir a devida importância de um evento qua não era de adversários políticos, senão uma festa de toda a Nação e do republicanismo que eles dizem defender. Bizarro e ridículo.
Pior ainda fez a Rede Globo, que transmitiu todas as imagens do pool, com pompa e circunstãncia, desde o início, antecipando-se às outras emissoras desde o meio-dia, fazendo flashs desde a manhã, com comentaristas ao vivo e matérias previamente gravadas. Tamanho interesse só diminuiu no final da tarde, quando, durante a cerimônia de beija-mãos de Dilma no Planalto, com representantes da política, dos diversos segmentos da sociedade e do corpo diplomático internacional, um “estranho” entraria em cena.
Ocorre que o Governo Federal convidou para a festa, para representar os setores da imprensa, e em clara sinalização à imprensa golpista, os dirigentes da Rede Record de Televisão. À frente, o “bispo” Edir Macedo, auto-intitulado líder espiritual da Igreja Universal, sócio majoritário da emissora da Barra Funda e arquiinimigo da ex-toda-poderosa Globo.
A Rede Globo abandonou o pool, recusou-se a transmitir os cumprimentos do bispo à Presidenta e desencavou um apanhado de “melhores momentos” do programa de Luciano Huck para finalizar a tarde de sábado de seus espectadores.
Não por acaso, o R7, portal de internet ligado à Record, noticiou durante esta semana o levantamento do IBOPE segundo o qual o Jornal Nacional, tradicional jornalístico da Globo e carro-chefe da programação da emissora dos Marinho, amargou uma queda de audiência de um em cada quatro espectadores nos últimos anos – 25%.
Mais que qualquer coisa, é esta queda constante e consistente de poder que incomoda a grande imprensa, principalmente à Globo. A entrada de novas mídias, a revolução tecnológica dos meios de comunicação e a concorrência real de novos players no mercado têm preocupado sobremaneira as poucas famílias que, até então, entronizavam-se no poder representado por suas fortes marcas e empresas de comunicação.
Neste exato momento, o Governo Federal, comandado por Lula e o PT, torna mais clara e democrática a distribuição de verba publicitária oficial – simplesmente o maior orçamento de comunicação do País – aumentando o número de meios, empresas e municípios contemplados, diluindo a verba total e tornando o processo mais transparente aos olhos do contribuinte.
Este comportamento, por parte do Governo, por mais que seja muito mais eficiente e republicano, e por isso mesmo não podendo ser rejeitado publicamente pelas empresas majoritárias, foi tomado como um tapa de mão aberta na velha imprensa.
Pode-se dizer que há intenções ideológicas nas linhas editoriais dos velhos dinossauros, evidentemente. Mas a briga com o Governo passou a ser mais acirrada, quanto mais ela é motivada pelo estômago vazio das empresas tradicionais, quase todas envolvidas com dívidas crescentes, faturamento decadente, credibilidade frágil e, portanto, a caminho da inevitável insolvência.
Encontram-se, sobretudo, numa areia movediça, em que qualquer movimento de reação a esta tendência de queda, sobretudo aqueles que indicam luta contra as midias emergentes ou retaliação política ao Governo que as abandonou à própria sorte, significa aos olhos do público mais uma quebra de compromisso com a imparcialidade, princípio tão caro ao bom jornalismo.
Ao transformar o processo eleitoral em briga de torcidas, atiçando sentimentos arrivistas, a grande imprensa desceu ainda mais na apreciação do público, simplesmente porque não percebeu que a “torcida adversária” era maior e mais influente, boa parte constituída de seus ex-consumidores. E à medida em que o mercado brasileiro se abre a maiores parcelas da população em ascenção econômica, esta mídia que se apresenta como adversária das mudanças sociais é tida como inimiga por novos formadores de opinião. É o fim de uma era aquilo que se anuncia em alto e bom som.
Enquanto isso, o que diziam as primeiras manchetes dos “principais jornais impressos de circulação nacional no sábado passado, dia da posse de Dilma?
O Globo mostrava a festa de reveillon do Rio de Janeiro e comemorava o renascimento da cidade. Relegava Dilma e o Brasil a um segundo plano, num imperdoável comportamento provinciano que nada combina com o Rio. A Folha ocupava a primeira página com um editorial onde tentava “ensinar” Dilma a governar, num rompante de megalomania típico dos seus proprietários. O Estadão era factual e frio. Frio, aliás, como os defuntos. Típico e esperado, um instantãneo do futuro que os aguarda.”
O senhor é um puxa-saco, bandido, sem-vergonha. Defende um safado que saqueou seu próprio dinheiro (pago através de impostos e pago a empresas aliadas) da forma mais desavergonhada que existe. O sr. deveria ter vergonha de colocar as palavras tal como o senhor colocou aqui. Eficiente e republicano? Faça-me o favor!
O sr. está ajudando a implantação de partido único neste país. É verdade que a oposição ajuda ao ser extremamente incompetente no papel que lhe cabe: o de mostrar as mazelas do governo, papel que a imprensa teve de assumir, por esta incompetência. É inacreditável os senhores darem suporte a tamanha roubalheira e ainda acusarem a imprensa de serem adversárias das mudanças sociais.
Os adversários das VERDADEIRAS mudanças sociais são vocês, ao dizerem que a educação está ótima e a saúde uma maravilha com o único propósito de glorificar um governo que tem seus méritos, mas apresenta muitos defeitos que arrastam o país para a lama, de onde não sairá, visto que o mais importante se tornou o secundário e não o principal, que é melhorar as condições do país para que estas sejam efetivamente permanentes e não se esvaneiem por falta de conhecimento.
Vocês se tornam cúmplices da maior bandidagem da história do país. Cúmplices têm que ir à cadeia!
Bruno, pega leve… este tipo de comentário, em outro espaço, seria cabível até de processo.
abs
Sr. Bruno, o senhor responde à minha coluna com ofensas, que eu não tomarei de forma pessoal, senão que sua percepção e reação estão movidas por fanatismo.
Eu manifesto uma opinião sincera e o que recebo em troca? A acusação de ser “puxa-saco, bandido e sem-vergonha”. O que eu fiz para merecer este tratamento? Emiti uma opinião,então se sou bandido, meu “crime” é este? Ora, sr.Bruno, e sou eu quem “está ajudando na implantação de um partido único neste país”? Reflita um pouco: quem, de nós dois, tem postura totalitária, está sendo intolerante e não acredita na pluralidade e no direito ao controverso? Quem prega e pratica a democracia aqui, e quem reage às ideias com ofensas?
Eu nem necessitaria defender meu direito à expressão, já que ele é defendido pelo blogueiro que me abriga. Ainda que eu escrevesse o contrário do que escrevo, ainda assim nunca fui censurado neste espaço. No âmbito pessoal, o máximo que eu consiguiria ao apoiar ações do PT seria me prejudicar individualmente. Portanto, se digo o que digo, não seria por puxa-saquismo, mas por convicção. E, veja o senhor, sua opinião, apesar de vir cheia de preconceito e agressividade barata, ainda assim foi aceita por este blog, não foi apagada dos comentários, e é aí que deve ficar, ainda que o senhor devesse se envergonhar dos seus maus modos. Não vamos censura-lo, nem processa-lo, nem chama-lo de bandido. Espero que isso seja tomado como uma demonstração prática do que é pluralismo, tolerância e democracia, que são conceitos que o senhor diz defender, mas que não aprendeu a praticar. E que o senhor não pense que estamos lhe puxando o saco. Nem sempre são estas as bases das relações humanas. Aprenda que o mundo oferece mais alternativas do que sua experiência e limitação pessoais podem supor.
Bruno, isso é verdade, o Affonso, autor do texto, só tem a se prejudicar defendendo o governo federal
abs