Neste primeiro dia útil de 2011, queria traçar algumas linhas sobre o Ministério escolhido pela nossa nova Presidente, Dilma Roussef, que tomou posse no último sábado.
Ao contrário da última transição presidencial, quando a oposição venceu as eleições de 2002 e houve uma troca generalizada, esta a que assistimos não exigia grandes mudanças de orientação ou mesmo de nomes, haja visto que teremos uma continuidade de políticas como regra geral.
Falei sobre a equipe econômica em post anterior. Surpreendeu-me, apenas, a escolha de um nome dos quadros de carreira para ocupar a Presidência do Banco Central, ao contrário do que afirmei aqui anteriormente. Entretanto, somada à manutenção do restante da equipe econômica do final do Governo Lula, pode significar uma política econômica mais voltada à produção e menos ao mercado financeiro.
Não me preocupa o retorno de Edison Lobão ao Ministério de Minas e Energia. Apesar de ser indicado e afilhado político de José Sarney, me parece que assim como na primeira passagem ele será uma espécie de “Rainha da Inglaterra”, sem grande poder real.
Até porque, com o plano de investimento da Petrobras e as perspectivas abertas pela exploração do pré sal e o novo marco regulatório o presidente da empresa passa a ter um poder real muito maior que o do Ministro das Minas e Energia.  O atual presidente José Sérgio Gabrielli e o corpo de diretores foi mantido nos cargos, de forma que só deve haver alguma mudança depois da conclusão do processo de transição para o novo marco.
Aliás, uma coisa que as pessoas na companhia comentaram foi que houve pouquíssimas mudanças no corpo gerencial. Nada muito diferente das tradicionais alterações de final de ano.
Outras boas manutenções foram a de Fernando Haddad na Educação – mesmo torpedeado de todos os lados pelo poderosíssimo lobby dos cursinhos – e a de Carlos Lupi no Trabalho – ali não atrapalhar é uma grande virtude.
Um caso particular é o da Saúde. O ex-ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha – meu homônimo, esse é exatamente o meu nome do meio – foi deslocado para lá para acomodar indicação do PMDB em sua pasta de origem – a meu ver tem tudo para realizar um bom trabalho de continuidade de seu antecessor Temporão.
Sérgio Cortes, Secretário de Saúde do Rio, seria o Ministro, mas a precipitação do Governador carioca Cabral pôs tudo a perder ao divulgar antes da hora a escolha. Mas é um bom nome para o futuro.
Outra boa indicação foi a de Antônio Patriota para as Relações Exteriores, sinalização clara de que a política externa independente, de grande sucesso e de não alinhamento aos interesses americanos será mantida.
Um nome mantido e que não achei interessante foi o do Ministro da Defesa, Nelson Jobim. Em que pese ter o respeito dos militares, suas posições extremamente conservadoras em questões sensíveis para o novo governo podem se constituir em problemas políticos muito brevemente. Bons exemplos são a questão dos desaparecidos políticos dos tempos da ditadura e o debate sobre o MST.
Outra indicação que não me agradou foi a de Helena Chagas para a Secretaria de Comunicação Social. Egressa da Rede Globo de Televisão, me parece uma tentativa da Presidente Dilma de se compor com a grande imprensa, que lhe fez oposição cerrada e muitas vezes desleal durante a campanha. Por outro lado a pasta controla os investimentos em mídia por parte do governo, cuja política de descentralização aplicada no Governo Lula pode e deve ser ampliada.

Por outro lado o Ministério das Comunicações ficou com o ex-ministro Paulo Bernardo. Ele tem gandes desafios em sua pasta, como a necessária regulação da mídia. Faz-se necessária uma lei de forma a regulamentar o necessário direito de resposta e separar o que é notícia do que é opinião editorial. O que se viu no último processo eleitoral foi o uso acintoso dos veículos de comunicação a fim de promover o candidato tucano, vendendo como “notícia” o que era propaganda eleitoral pura e simples.

A política empreendida pelo Governo Lula de democratizar as verbas publicitárias do governo foi acertada, mas algo precisa ser feito. Lembro aos leitores que rádios e televisões são concessões públicas e estão sujeitas a regras.

Aliás, ponto significativo da festa de posse foi a escolha da Rede Record de Televisão – na figura do dono Edir Macedo e do presidente da emissora Alexandre Raposo – como representante da imprensa nos convidados para os cumprimentos à nova mandatária do país. É sinal de que a Rede Globo de Televisão, no mínimo, terá de arcar com as consequências de sua postura durante a campanha eleitoral.

Quanto ao PMDB, era mais ou menos esperado que, tendo feito o vice presidente, fosse exigir sua cota no governo. Em um primeiro momento, penso que seriam até mais audazes e fisiológicos do que realmente foram, mas é evidente que seu apetite insaciável, cedo ou tarde, se manifestará. A lamentar a escolha de Moreira Franco para compor o ministério.
Deve-se saudar a escolha de um número expressivo de mulheres, embora a deputada Manuela D´Ávila poderia estar no lugar do reconduzido Orlando Silva nos Esportes. E parece natural Antonio Palocci na Casa Civil – ele foi inocentado no episódio do Mensalão – e José Eduardo Cardozo na Justiça, os dois principais articuladores políticos da campanha vitoriosa de Dilma Roussef.

Concluindo, diria que é um ministério possível, e que indica a continuidade do governo vitorioso do ex-Presidente Lula – sobre cujo legado escrevi anteriormente.
Veja abaixo os ministros que tomaram posse neste último sábado:
Advocacia Geral da União – Luís Inácio Lucena Adams
Agricultura – Wagner Rossi
Banco Central – Alexandre Tombini
Casa Civil – Antonio Palocci
Cidades – Mário Negromonte
Ciência e Tecnologia – Aloizio Mercadante
Comunicação Social – Helena Chagas
Comunicações – Paulo Bernardo
Controladoria Geral da União – Jorge Hage
Cultura – Ana de Hollanda
Defesa – Nelson Jobim
Desenvolvimento Agrário – Afonso Florence
Desenvolvimento, Indústria e Comércio – Fernando Pimentel
Desenvolvimento Social – Tereza Campello
Direitos Humanos – Maria do Rosário
Educação – Fernando Haddad
Esporte – Orlando Silva Jr.
Fazenda – Guido Mantega
Gabinete de Segurança Institucional – José Elito Carvalho Siqueira
Igualdade Racial – Luiza Bairros
Integração Nacional – Fernando Bezerra Coelho
Justiça – José Eduardo Cardozo
Meio Ambiente – Izabella Teixeira
Minas e Energia – Edson Lobão
Mulheres – Iriny Lopes
Pesca – Ideli Salvatti
Planejamento – Miriam Belchior
Portos – Leônidas Cristino
Previdência – Garibaldi Alves
Relações Exteriores – Antônio Patriota
Relações Institucionais – Luiz Sérgio
Saúde – Alexandre Padilha
Secretaria de Assuntos Estratégicos – Moreira Franco
Secretaria Geral da Presidência – Gilberto Carvalho
Trabalho – Carlos Lupi
Transportes – Alfredo Nascimento
Chefe do Gabinete da Presidência: Giles Carriconde Azevedo
(Fotos: R7)

8 Replies to “O Ministério de Dilma Roussef”

  1. Bom começo de ano para você. Afinal defender o Fernando Haddad, o homem que mostra que para o PT “herrar é umano” e “herrar” duas “vêis” é competência, e o Palocci, cuja acusação não é o Mensalão (essa cabe ao José Dirceu), mas improbidade admnistrativa – por reunir-se de maneira, no mínimo, não republicana com empresários que, segundo o caseiro, lhe pediam favores – e quebra de sigilo fiscal, aquele que o lula (agora como ex-presidente, sua figura tem que diminuir, a presidenta é a Dilma! Começo pela inicial maiúscula, pois alguns já estão achando que a regra para ele é a mesma de Deus. Não só no português, mas na infalibilidade. Para mim não é.) pergunta o que significa – talvez porque ache que como governo tem mais é de quebrar o sigilo de qualquer cidadão para chantageá-lo, como quis fazer com o caseiro – é demais amigo…

    Agora mostre este texto a seu chefe… Quem sabe não vem um aumento por aí…

  2. Não vou esperar fazerem besteira!

    Por exemplo: o ministro das Comunicações estuda impor nacionalização aos portais de Internet.

    A quem beneficia: Record e iG. Defensores ferrenhos do governo…

    A quem prejudica: Globo, UOL, Terra e aos brasileiros que trabalham na parte de computação destes sites, pois os empregos destes iriam para o exterior, já que, na Internet, A NÃO SER QUE O GOVERNO PRETENDA USAR DE CENSURA tudo é acessível de qualquer lugar e as leis às quais o site tem de se submeter, seriam as leis de onde o servidor estiver sediado. Sei que não é o entendimento de alguns juízes (vide Orkut e Google que foram alvo de decisões judiciais que ignoraram a situação) e, neste caso, como consequência, além da perda completa dos empregos, a nacionalização pode ser utilizada como instrumento de CENSURA.

    Aprendeu como funciona? Defende essa, vai…

  3. Bruno, eu até irei ler mais sobre o assunto, mas quem vem se notabilizando por oposição ferrenha ao capital estrangeiro nos órgãos de comunicação e portais de internet são justamente o Grupo Globo e a Folha.

    Eu vi inclusive uma entrevista do joão Roberto Marinho onde ele defende arduamente a nacionalização.

    Mas… vou dar uma pesquisada

  4. Muito estranho. Pois a Globo.com tem participação da TIM (Itália), o Terra é da Telefônica (Espanha) e só o UOL não me recordo se tem participação do exterior…

    De qualquer forma, intervenções nesta área podem ser uma forma velada de censura. Perigosíssima…

  5. Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro…

    De qualquer forma, é um anúncio estúpido pelas ações que provocará no país e por revelar desconhecimento (das consequências) ou má intenção (censura) do ministro…

    Sobre o UOL levantei que até a pouco tempo tinha participação da Portugal Telecom acima do percentual de 30%. E, que coincidência! A Portugal Telecom está vendendo sua parte para a Folha para se capitalizar para a compra de parte da Oi.

    Ou porque tem alguma informação privilegiada? Pois o dinheiro conseguido com a venda da Vivo dá e sobra para a compra da participação acionária na Oi… Especulação baseada em pura matemática…

    Benefícios para um investidor da Oi por defender o governo? Não, imagine, tão honestinhos os dois…

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