Um dos debates que vem permeando a atual campanha eleitoral é o relacionado à liberdade de imprensa. Temos várias tendências e uma disputa encarniçada por privilégios sem a proverbial contrapartida.
A oposição costuma dizer que a candidata Dilma Roussef, se eleita, irá “acabar com a liberdade de imprensa”. Parece esquecer que o Presidente Lula foi um dos mandatários mais vilipendiados pela chamada “grande imprensa” e em momento nenhum sequer levantou a voz para reclamar das críticas e muitas vezes das mentiras a seu respeito e do governo que eram publicadas.
Por outro lado o principal candidato de oposição tem histórico de mandar demitir jornalistas que escrevem matérias ou fazem perguntas que o desagradem. Haja visto o recente episódio ocorrido na Tv Cultura, de propriedade do Governo Paulista, onde matérias sobre os abusivos e extorsivos pedágios cobrados em São Paulo renderam a demissão de dois dos mais prestigiados jornalistas da emissora.
Raciocinando friamente e fora do clima de histeria em que esta questão está envolvida, seria muito mais razoável imaginar restrições ao trabalho da imprensa em um eventual mandato de José Serra. Este já andou reclamando de blogs que lhe fazem oposição – chamando-os de “blogs sujos” – e não seria absurdo pensar que todos estes elementos da blogosfera que o incomodam sofreriam algum tipo de retaliação em caso de vitória do candidato do PSDB.
Entretanto, este não é o tema deste post, mas sim a liberdade de imprensa desejada pelos donos da grande mídia. Hoje esta mente, manipula, distorce, toma posições políticas, assassina reputações, é parcial, utiliza-se de concessões públicas para advocacia privada (no caso das televisões) e é utilizada para defesa de interesses que nem sempre são de bom tom vir a público.
Bons exemplos desta postura são a revista Veja e a campanha feita pelo jornal O Globo há mais de ano contra a Petrobras.
A revista semanal em questão especializou-se em “assassinar reputações”, que é publicar denúncias infundadas contra pessoas e instituições sem ouvir a parte em questão e sem admitir o contraditório. O intuito é colocar na lama nomes e carreiras, a serviço de interesses fiduciários nem sempre confessáveis. O jornalista Luis Nassif escreveu há dois anos atrás série bastante elucidativa sobre os métodos da revista e os interesses por trás de “matérias” que tinham compromisso com quase tudo, menos a verdade.
Também ressalto o comportamento do jornal O Globo em relação à Petrobras, maior empresa do Brasil. Há mais de um ano as páginas do jornal vem sendo utilizadas para denegrir a companhia, mas agora, com a capitalização que se aproxima, parece claro que as páginas do jornal vem sendo utilizadas por atores interessados na diminuição do preço das ações da petroleira brasileira; a fim de ganhar dinheiro quando do lançamento das novas ações.
Não posso falar muito por estar sujeito a regras determinadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que todos os funcionários de uma empresa em período de oferta pública de ações devem seguir. Entretanto, posso afirmar que as matérias sobre a empresa publicadas nas manchetes deste jornal todo santo dia são absolutamente falaciosas.
Também tenho de me referir ao episódio recente das entrevistas publicadas no Jornal Nacional com os candidatos a Presidente. Enquanto Dilma Roussef foi inquirida pelos âncoras quase que à moda de Torquemada, o candidato da casa, José Serra, foi tratado com a gentileza de um convescote.
Tal âncora, que também é editor chefe do noticioso em questão – e afirma que ‘pensa’ as notícias tendo como público alvo uma legião de “Homer Simpsons” – não hesita em executar as diretrizes do Diretor Geral de jornalismo Ali Kamel e utilizar o tempo – e uma concessão pública – para fazer proselitismo político, muitas vezes distorcendo e manipulando os fatos.
Se esta é a liberdade de imprensa defendida pela grande mídia – a manipulação, o proselitismo, a advocacia pessoal e a distorção sem limites – sou a favor de algum tipo de regulamentação, em especial para a televisão. Não podemos nos esquecer que esta é uma concessão pública e, como tal, está sujeita a regras.
Um bom jornalismo deve estar a serviço da verdade, do respeito ao contraditório e da separação clara entre notícia e opinião. Hoje o que mais se vê é opinião vendida como notícia. Isto é pessimo.
Outrossim, não podemos deixar de notar o comportamento da Justiça quando as partes prejudicadas buscam o necessário direito de resposta. Normalmente referendem esta “liberdade” distorcida e deixam os alvos das campanhas midiáticas sem muito ao que recorrer – e com a sensação de que estão acima do bem e do mal. Evidentemente o poder da grande mídia era muito maior antes do advento da internet, mas ainda possui uma capacidade considerável de influência.
Concluindo, é evidente que o conceito de “liberdade de imprensa” precisa voltar a um patamar razoável: a crítica sem a mentira, a notícia sem distorção. Hoje, liberdade de imprensa há apenas para os donos de mídia e seus aliados preferenciais.
Para terminar, faço dois adendos:
O primeiro é louvar as atitudes da revista Carta Capital e do jornalista Ricardo Noblat, que saíram da falsa parcialidade e assumiram seus apoios na eleição que se aproxima, cada um para um lado. Melhor assim.
Segundo, é uma tremenda hipocrisia a grande mídia defender a entrega do patrimônio nacional – seja estatal ou empresas privadas de capital brasileiro – a grupos estrangeiros e lutar ferozmente para que sejam impostas restrições legais à entrada dos mesmos capitais transnacionais no setor midiático.
Farinha pouca, meu pirão primeiro…

5 Replies to “Sobre a liberdade de imprensa”

  1. Para substituir este jornalismo atual pelo quê? Pelo jornalismo pelego do Página 13 ou pelo seu próprio jornalismo tendencioso? Prefiro ler o Elio Gaspari. Ao menos ele vai criticar quem quer que seja, mostrando às claras os erros e a batalha pelo poder. Fez com FHC (gostava muito de lembrar sempre a história da reeleição, chamando-o de FFHH), fez com o Lula e acredito que continuará fazendo enquanto lhe permitirem. Isso é jornalismo, ao colocar a nu os erros e a incapacidade de vê-los daquele que está no poder para que a sociedade (neste ponto a imprensa faz o papel de agitadora, defendendo interesses) pressione o governo para tomar ações.

    Se há mentiras, destruições de reputação, a justiça deveria servir. O problema é que nosso judiciário dá demonstrações de que não presta, é parcial e passível de compra por caminhões de dinheiro.

    Substituir a justiça por um controle feito pelo governo, como sugerido no Plano Nacional de Direitos Humanos III vai nos transformar em Cuba, onde os blogueiros contra o governo são espancados na rua, vide a blogueira Yoani do “Generación Y”. O que é necessário é corrigir a justiça. Mas ajustar a justiça exigiria que os atuais corruptos (Lula, Dirceu, seu bando de mensaleiros e aqueles que se opõem a eles) fossem para a cadeia. Então não interessa a ambos e a guerra continua.

    Você não aprendeu no CPII que deve sempre ler nas entrelinhas, buscando entender os interesses de cada uma das partes? Ou não quer ler as entrelinhas porque você também se tornou parcial? Você decidiu defender crimes e seus criminosos (até a manutenção do Sarney no Senado, você defendeu neste blog) e está se tornando cúmplice deles. Ser cúmplice dá cadeia. Há crimes muito maiores que a Petrobrás não investigados por interesses de anunciantes, mas isto o senhor defende também, né? Vale tudo para manter o Bolsa família sustentando economias vazias, que dependem unicamente dele para continuar funcionando. É preciso ter uma solução além disso, o que NENHUM dos candidatos propõe. Há algo errado, mas temos de defender o candidato do “Coronér” por que ele está mandando!

    Sou seu amigo. E é por esse motivo que vou continuar escrevendo e lhe falando na cara aquilo que outros vão ignorar pela manutenção da própria saúde.

  2. E sobre Lula, eu concordo com o Noblat em seu próprio perfil:

    “(…)Da Bahia, como Diretor de Redação do jornal “A Tarde”, acompanhei a estréia na função de presidente da República do metalúrgico que um dia vira preso no DOPS. Voltei a Brasília 11 meses depois interessado em acompanhar de perto a experiência de um governo de esquerda governar pela direita.

    E eu que pensava que já vira tudo!”

  3. Parabéns pela clareza e lucidez do seu comentário. Lendo os comentários do Bruno pensei: pior que cego é o que não quer ver.

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