Não tenho o hábito de republicar textos do blog.
Mas hoje abro uma exceção para republicar, com acréscimos e correções, texto que escrevi no ano passado sobre o Dia do Economista, que se comemora na data de hoje.
“Hoje sou lembrado pelo rádio de que devo comemorar em dose dupla: pelo Dia do Economista e pelo Dia dos Canhotos.
Sobre os canhotos já escrevi outro texto, que pode ser lido aqui. Queria falar um pouco sobre a profissão de economista.
Quando decidi fazer vestibular para Economia, ainda no segundo ano do Segundo Grau – e lá se vão vinte anos – minha idéia era a de ter ferramentais que me possibilitassem entender melhor a sociedade e agir para modificá-la.
Além disso, sempre fui – e sou – apaixonado por política e por políticas públicas. Os leitores do Ouro de Tolo, volta e meia, são perturbados com exercícios teóricos nesta linha, de tentar entender o que se passa na vida econômica e social brasileira e extrair análises e sugestões de políticas a serem desenvolvidas.
À época, a profissão estava bastante vilipendiada devido às desastradas intervenções efetuadas na economia real pelas equipes de economistas governamentais e seus pacotes econômicos – Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão e quejandos.
Mesmo assim, optei por seguir a carreira. Depois, na UFRJ (foto acima), entenderia que a Economia era muito mais utilizada para manter o “status quo” do que para modificá-lo, entretanto fornecia parte do ferramental para isso caso estivéssemos interessados. A formação de um mercado interno de massa ocorrida nos últimos anos é um bom exemplo disto.
Inclusive vi um economista – que depois seria Ministro da Fazenda – dando uma palestra onde defendia que o equilíbrio financeiro da Economia estava acima de todas as outras coisas, inclusive do bem estar da sociedade. Ainda que, para se alcançar tal equilíbrio, tenham de haver mortes por falta de condições mínimas de sustentabilidade individual.
Formei-me com muito esforço e a minha vida profissional acabou seguindo um rumo que eu decididamente não imaginava quando fiz a minha opção, lá em 1990. Imaginava seguir carreira acadêmica ou em algum instituto de estudos como o IPEA, por exemplo. Contudo, o curso da vida acabou direcionando-me para outras opções dentro da área econômico-financeira e hoje trabalho na maior empresa brasileira, do que muito me orgulho.
Hoje trabalho mais com orçamento, gestão e controles do que com Economia, mas a empresa em que trabalho me dá opções de, tempos em tempos, mudar de área.
Entre estagiário e empregado, lá se vão dezesseis anos de vida profissional. Não tenho do que me arrepender, apesar de algumas escolhas não terem se revelado muito acertadas neste tempo. Entretanto, a melhor escolha eu fiz.
Também tive sorte de cursar uma escola que mostrava todas as correntes de pensamento econômico, e nos dava opções de discernir qual a mais adequada. Tornei-me anti-liberal e simpático à linha keynesiana, que grosso modo advoga que o Estado deve ter um papel indutor da Economia e garantidor do bem estar social da população.
Em política, me defino como social-democrata.
Hoje, quem for estudar Economia deve prestar atenção porque, sob este nome, existem duas escolas: as faculdades de Economia propriamente ditas e as escolas de Finanças, voltadas ao mercado financeiro.
Quem optar por uma escola do segundo grupo, a meu ver, perderá duas das maiores vantagens do economista, a saber: a visão ampla que permite transitar por todos os aspectos da vida empresarial e a formação básica na teoria econômica.
Em uma empresa, um economista consegue “jogar nas onze”, ou seja, transitar por campos adjacentes de conhecimento. Essa formação ao mesmo tempo generalista e especialista é uma das grandes vantagens que temos. Sempre haverá mercado. Aliás, hoje um economista recém-formado tem muito mais facilidade de se colocar no mercado de trabalho do que na ocasião em que me formei – tempos de retração econômica. A disponibilidade de empregos é bastante superior hoje.
Sou um economista, e sou feliz por ter feito esta escolha de carreira. Antes que perguntem, se não tivesse seguido este caminho profissional talvez hoje fosse um professor de português e literatura brasileira, outra de minhas paixões – como os leitores podem ver nas “Resenhas Literárias”…”