Final de dia, correria, mas temos o texto da coluna “História & Outros Assuntos”, assinada pelo publicitário e historiador Fabrício Gomes. Sem maiores delongas, o texto, do qual tenho algumas discordâncias pontuais mas é um bom retrato do quadro.

“O recente episódio envolvendo o goleiro Bruno trouxe de volta aos holofotes novas personagens da sociedade. O surgimento de novas amantes do jogador – cujo estereótipo não foge à regra de serem loiras e popozudas – não é fenômeno novo nos tempos modernos. Inclusive virou lugar comum jogador de futebol (ou pagodeiro) aparecer logo com um carro importado ultima geração e uma loira ‘popozuda’ ao lado.

A discussão sobre o real valor das ‘popozudas’, seja a frente das baterias das escolas de samba, como as modelos besuntadas de spray em cima de alegorias – fenomeno cada vez mais frequente no carnaval carioca, ou amantes/namoradas de boleiros que pegam carona na fama é interessante, ao mesmo tempo que facilmente se pode encontrar o segredo de tanta (super)valorização.

Certamente que, em termos de competência artística uma Glória Pires, uma Fernanda Montenegro, um Paulo Goulart, Angela Leal, Marisa Monte, entre outros, em comparação com Gracyannes, Vivianes, Paolas e Valescas (não que elas estejam no mesmo rol das amantes de jogadores, longe disso!) dão de 10 a 0. Até porque, sem desmerecer o segundo time citado, as mesmas ainda tem um longo caminho a trilhar, idem para desenvolver mais seus “dotes” artísticos.

Mas por outro lado, é perfeitamente compreensível a supervalorização de bumbuns de fora pra chuchu, mulheres deslumbrantes semi-nuas ou funkeiras apimentadas: elas dão retorno de mídia. E por conseguinte toda jovem ou adolescente vinda de classes sociais menos favorecidas tem o referencial de modelo popozuda como meta – seja para ficar rica ou simplesmente alcançar um status social mais “qualificado”, digamos.

Não precisamos ser experts em marketing para saber que uma Viviane Araujo, com um decote quase transparente, é certeza de milhares de page views num site como UOL, Terra, Globo.com etc. Até porque, teoricamente, já foram realizados inumeros estudos comprobatórios. Se eu fosse dono de um site (ou jornal, ou revista), para ter lucro, para ter como pagar meus funcionários etc, iria com certeza investir para divulgar a Popozuda, por mais que a Marília Pêra dê de 10 a 0 nela em valor artístico – e eu particularmente adoro a Marília Pêra.

Entenda-se aqui a cabeça de um empresário, que arca com uma empresa, que tem funcionários a pagar, que deseja sempre o lucro – afinal, o dinheiro move o mundo.

Portanto, acho que a tal “culpabilização” dos meios de comunicação, ao exibirem as popozudas, merece ser avaliada com mais cuidado. O fotografo que clica milhares de vezes Luma de Oliveira, o repórter que entrevista Adriane Galisteu (ao inves de entrevistar Tia Surica, Dona Ivone Lara ou Delegado – ja que citamos o carnaval, como exemplo aqui… o jornal que dá meia página exibindo “a bobeada” (proposital!) da Nana Gouveia (foto acima) na praia, com seu biquini “escapando” num banho de mar… ninguem faz isso pq quer, mas sim porque obedecem a um sistema baseado no lucro, baseado em investimento de patrocinadores…

A Loreal certamente vai continuar a ser um dos patrocinadores master do Terra, se este apresentar planilhas comprovando um numero de acessos razoável, que dê retorno à Loreal – que por sua vez, conta com acionistas que vão decidir se a empresa deverá investir em propaganda na internet ou propaganda na TV no horario da novela das oito. Um rapaz jovem certamente será mais atraído pelo bumbum de uma Paola Oliveira do que por uma foto da Gloria Pires desfilando. É retorno imediato para um site de internet que exibe isso. Até pq o que está em jogo, nesse caso, não é o valor artístico do conteúdo, e sim da forma. E é provavel que um dia a Paola Oliveira seja uma grande atriz, com certeza. (um dia).

Não existem mocinhos ou bandidos nessa super-exposição. O que existe é o ciclo de um sistema que tem que ser assim para sobreviver. E quem, por ventura, fugir dessa dinamica, será “devorado” pelo concorrente. É coerente discutir e ter a noção da diferença entre o espetáculo (que valorizamos e queremos) e o simulacro.

Vale perceber ainda que esse fenomeno não é unicamente privilegio do carnaval carioca. Em Salvador, por exemplo, os blocos afro ou Filhos de Gandhi, são menos expostos do que um bloco onde a Ivete ou Claudia Leitte saem (com as pernas ou algo mais de fora)… é comum perceber ainda, a presença de varios artistas (de TV, musica, esportes etc) em cima dos trios…. isso atrai mais gente pros blocos, atrai preferencia da TV na hora da transmissão – e por sua vez atrai mais patrocinador interessado.

Em Olinda, o Galo da Madrugada é apenas um ator coadjuvante, perto do pessoal que frequenta o camarote da revista CARAS. Se tiver algum jogador de futebol, alguma apresentadora de TV, algum funkeiro ou coelhinha da Playboy, melhor ainda. O Homem da Meia-Noite e a Mulher-do-dia (tradicionais blocos de Olinda) perdem espaço para entrevistas inócuas (mas que dão lucro as emissoras) de pseudo-artistas.

Finalizando, existem dois tipos de valores em questão: o valor intrínseco ao artista – e esse é inescapável a uma Fernanda Montenegro, a uma Angela Leal, a uma Marisa Monte – mestres em seus ofícios como artistas; e existe o valor, mesmo que momentaneo, das popozudas, que são meteóritos, que hoje estão na mídia, amanhã desaparecem.

Quem se lembra da Tiazinha? Alguem viu ela por aí?”

4 Replies to “História & Outros Assuntos: "A dinâmica do espetáculo: conteúdo x forma"”

  1. Você nunca vai ver a bunda da Paola porque, até no carnaval ela faz questão de se resguardar. Outra coisa, ajusta seu relógio biológico porque já estamos em 2010 e a Paola não é apenas uma grande atriz, ela é uma excelente atriz.

  2. “Uma pessoa sonhadora”… Pois volte para a realidade. Não é porque uma pessoa desfila no carnaval que ela tenha que ser rebaixada a categoria de oportunistas e mulheres fruta. Quem acompanha a cobertura da festa ou sabe da carreira da Paola de Oliveira sabe que a atriz jamais fez um ensaio sensual ou algo que estivesse destacado da carreira dela como atriz exibindo o “bumbum”. Se informa cara!

  3. Pois é, Bruno, pois é…

    Pior é que tanto o Cicero quanto a Manoela interpretaram errado o texto. A Paola Oliveira foi usada como um exemplo para o fenômeno maior.

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