Bom, nossa série sobre política dá uma paradinha para que possamos falar de um assunto que se tornou moda nos últimos tempos: as “maternidades-hotéis”.

Digo isso porque ontem fui acompanhar o nascimento do meu sobrinho André Lucas na nova unidade da Perinatal na Barra – melhor seria dizer Jacarepaguá, mas nada como o poder do marketing…

A maternidade em questão, com duas unidades, parece mais um hotel que um hospital. Os quartos possuem tv a cabo, frigobar, pontos de rede para internet e até camas para os pobres pais acompanhantes… A intenção é criar um clima aconchegante para a chegada ao mundo dos pequeninos seres – além de permitir uma agregação de valores que eleva a margem de lucro do negócio. Na área de apoio, estacionamento com manobrista e cafeteria.

O nascimento em si envolve ares de superprodução, com direito a aparecer na televisão do circuito interno assim que o nascimento ocorre. O primeiro berçário onde as crianças ficam na incubadora por uma ou duas horas possui uma ampla janela de frente para a sala de espera. Nos mini-berços há balões identificando o sexo do bebê e há convênio com uma marca de produtos para bebês – a Granado – que fornece um pequeno kit de produtos de higiene aos novos seres que vieram ao mundo. Cerca de 24 horas após o parto a foto pode ser encontrada no site do hospital.

A matriz em Laranjeiras, onde minhas duas filhas nasceram, ainda era um misto de hospital e hotel, apesar deste conceito já ser aplicado. Na filial, que não conhecia, este modelo é ampliado de forma a gerar valores com procedimentos não médicos em proporção cada vez maior. Ressalvo que a equipe médica é uma das melhores do país – pude comprovar isso quando a Maria Clara passou uns dias internada logo após seu nascimento.

Obviamente, esta estrutura de conforto tem seus inconvenientes, ainda mais agora que a maternidade aceita praticamente todos os convênios médicos – anteriormente eram aceitos somente os da Petrobras e seguros saúde, o que dava um ar “elitista” ao hospital. Apesar de ser uma cesárea com hora marcada minha cunhada ficou um bom tempo após o marcado esperando para descer ao centro cirúrgico, dada a quantidade de nascimentos. Quando desceu, ainda precisou aguardar mais um pouco – o que gerou certa apreensão na gente, logo desfeita. A demanda parece estar acima da capacidade de atendimento, pelo menos em certos “horários pico”.

Levando-se em conta que não afeta a qualidade dos serviços médicos – apesar das aparências, lá é um hospital – acho interessante esta busca por maior conforto e novas possibilidades de ganhos. Por outro lado, cria-se um ambiente de segurança às futuras mamães, o que não deixa de ser salutar. A nota dissonante deste quadro é que esta estrutura acaba promovendo o aumento do número de cesáreas desnecessárias, marcadas por conveniência da paciente e especialmente do obstetra; correm-se riscos desnecessários.

Aproveitando o ensejo, observo que a experiências das “casas de parto”, ainda incipientes aqui no Brasil é outra alternativa bastante interessante para humanizar o processo de parto. Mesmo o atendimento via SUS possui espaço para tornar mais humano o ato de dar a luz.

De qualquer forma, parecem longe aqueles tempos onde o pai não podia acompanhar o parto, a mulher em vias de dar a luz ficava sozinha com a equipe médica e após o parto o pai não podia acompanhar a mãe no quarto nem o bebê ficava junto à mãe.

P.S. – A foto é da Ana Luisa, minha filha mais nova e hoje com quase três anos. A imagem do meu sobrinho não tinha ainda sido disponibilizada no momento em que escrevo – e a bateria do meu celular acabou ontem na hora mais inadequada…