De uma maneira que não esperava, o artigo sobre a política carioca que publiquei mais cedo alcançou uma repercussão que, absolutamente, não previa.
O jornalista Marco Aurélio Mello, do excelente “DoLadoDeLá” republicou o artigo na íntegra, para minha honra e alegria.
Por intermédio de um leitor o texto acabou alvo de debate no blog do líder do PDT na Câmara dos deputados, Brizola Neto. Este fez algumas considerações sobre o texto e jogou luzes sobre a atuação política do ex-governador do Rio de Janeiro – inclusive com diversos aspectos que, reconheço, desconhecia.
Com autorização dele, republico aqui com pequenas correções de forma a crítica ao texto, feita em seu blog “Tijolaço” – que eu não conhecia e recomendo vivamente uma visita. É um pequeno reconhecimento do qual muito me orgulho.
Vamos ao texto, lembrando que voltarei ao tema proximamente:
“Li o texto e achei que tem uma essência correta, embora não concorde com tudo, especialmente em relação ao primeiro governo, com o peso desta avaliação negativa, tanto que Darcy quase foi eleito não obstante a maré avassaladora do Plano Cruzado.

Quanto à critica sobre os tais expurgos, talvez falte ao Pedro a informação sobre a flexibilidade que Brizola teve com quase todos eles. Com Cesar, chegou a desculpar um encontro com Collor em plena campanha de 89. Um amigo me conta que , numa reunião do PDT, até tentou justificar isso dizendo que Cesar era uma espécie de “avião de reconhecimento”, que voava no território inimigo e voltava para dar informações.

Com Marcello, eleito por ele, pediu dúzias de vezes que ele abrisse espaço para uma pessoa combativa – e nada dócil a ele – como Cidinha Campos ser candidata. Marcello não aceitava nada senão um seu “homem de confiança”, Luiz Paulo, como candidato. E veja que Cesar e Marcello foram para a direita, onde foram imediatamente acolhidos no coração do conservadorismo.

Com Garotinho foi diferente. Brizola bancou sua candidatura em 1994, contra dois outros de seus secretários, Noel de Carvalho e Jorge Roberto da Silveira. Em 98, colocou seu próprio pescoço em jogo para assegurar a aliança com o PT que o elegeu aqui no Rio. Lembre-se de que, na ocasião, ser candidato a vice do Lula era para perder e ele já tinha 76 anos de idade. Fui testemunha do esforço físico dele, ali e em 2000, quando Garotinho deixou o PDT e foi apoiar Conde, o candidato de Cesar Maia.

Claro que Brizola, como todo líder que passou 50 anos na vida pública com uma causa, era turrão, às vezes. Mas posso, Pedro, testemunhar honestamente que ele nunca foi intransigente com quem agia com lealdade e sinceridade. Claro que é saber dirigir e estar no banco do carona. Toda hora você dá palpite e isso às vezes irrita o “palpitante” e o “palpitado”. Mas não é essa a razão essencial.

O problema, de que outro dia falei aqui, é que o tempo, os confortos da política e os afagos da mídia, sempre pronta a festejar quem brigava ou rompia com Brizola, levam as pessoas para a direita.

A vida de quem quer ser coerente politicamente, de quem tem causa, é uma vida difícil. A gente apanha de todos os lados, até de quem está junto de nós e quer, com justiça, um pouco mais de atenção e presença. Até em família isso ocorre. A gente aguenta porque tem o couro grosso e o coração grande. Grande abraço, e venha dar opinião quando e como quiser. Como dizem os gaúchos, “é no entrevero que morre gente”.

5 Replies to “Repercussão”

  1. Antes de mais nada não gosto do Brizola. Acho que ele é um dos principais culpados pelo estado de coisas em que estamos e na (in)segurança pública em que vivemos.

    Mas tenho de aplaudir como ele defendia as posições dele, desde a época da rede da legalidade. E aplaudir você Pedro, porque permite o espaço à discordância e ao outro.

    Infelizmente, há quem não goste disso…

  2. Bruno, eu ainda irei escrever sobre isso, mas tendo a relativizar o papel de Leonel Brizola nesta escalada de insegurança.

    Ainda mais quando ele estava 30 anos á frente em educação e com esta política equivocada de segurança que vivemos hoje em dia.

    no mais, aqui sempre será o espaço do contraditório

  3. Brizola é o culpado pela insegurança do Rio porque não fez como Carlos Lacerda que incendiou favela visando expulsar seus moradores?
    A insegurança é filha dileta da miseria, da falta de educação, da fome, da desigualdade social.
    Os cariocas filhinhos de papai consumidores de drogas têm mais culpa da violencia que assola o Rio do que um politico que defendia educação integral para os favelados e impedia que seus miseráeis barracos fossem invadidos por uma policia truculenta e assassina. Ser tratado com respeito e dignidade não é privilegio dos cariocas da zona sul. A Constituição Federal precreve nos termos do artigo 5º, inciso XI da Constituição Federal, “a casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial”. Segundo a definição jurídica, encontrada no artigo 150 § 4º do Código Penal, considera-se “casa” qualquer compartimento habitado, aposento de habitação coletiva e também compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (quarto, oficina, atelier, etc.).
    DIREITO À VIDA
    Art. 5º caput Constituição Federal
    O direito à vida é o maior bem de todos nós.
    DIREITO À DIGNIDADE
    Art. 1º, III CF; art. 1º, II, §§ 1º e 2º da Lei 9455/97 (Tortura); art. 4º, b Lei 4.898/65 (abuso de autoridade) A dignidade da pessoa humana é um dos princípios fundamentais da humanidade devendo ser preservada em toda e qualquer tipo de situação, seja ela prisão ou outras formas de confronto.Qualquer cidadão tem direito à sua dignidade. Os cariocas da zona sul quando crescerem querem se tornar paulistas da Daslu. São no fundo todos iguais. Uns facistazinhos.

  4. caro anônimo, tendo a concordar com seus argumentos, mas há algumas nuances que não podem ser desprezadas.

    eu vou escrever sobre este tema em breve

    abraços e seja bem vindo

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