Ultimamente tenho desenvolvido certa aversão às festas de Natal e Ano Novo, em especial depois que meus avós faleceram. O mito do Papai Noel renasce nas minhas filhas, mas a motivação ainda não é a mesma.
Todavia não falarei disso. Mas, sim, de uma verdadeira praga que ocorre todo mês de dezembro: a temporada anual de hipocrisia.
Como que por enquanto, todos aqueles que foram canalhas o ano inteiro recebem um espírito bem aventurado e se transformam em verdadeiros santos. É uma tal de “felicidades” pra lá, “sucesso” pra cá, confraternizações mil…
Ambiente de trabalho, então, é bem isso. O sujeito pisa no teu pescoço o ano inteiro, quando chega dezembro dá uma de bom samaritano e deseja “feliz ano novo”. Aí dia dois de janeiro volta a pisar no pescoço dos outros.
Igual a festas corporativas, que ninguém quer ir mas acaba sendo voto vencido. Vai para fazer média ou para ver se fatura algum brinde – escassos nestes tempos de downsizing e disciplina de capital.
As pessoas deveriam mostrar-se como elas são. Não adianta nada desejar “boas festas”, brindar naquele restaurante carésimo que o superior escolheu e distribuir sorrisos forçados a granel se no restante do ano ele só pensa em como se dar bem e puxar tapetes alheios.
Outra tremenda hipocrisia é a tal da “caixinha”. O cidadão passa onze meses inteiros xingando aqueles que possuem funções menos remuneradas, mas dá uma gorjeta no final de ano para “se sentir menos culpado”. Acho o cúmulo.
Será que é pedir demais querer que as pessoas também em dezembro sejam como são o ano todo ? Assumem-se uma série de compromissos não por querer estar no local, mas sim por uma “moral” absolutamente hipócrita.
Cada vez mais isto me irrita sobremaneira. Esta onda de bom mocismo, solidariedade e congraçamento tem a mesma base que um alicerce de areia para construir um prédio: nenhuma.
Infelizmente, de alguns compromissos – em especial os corporativos – não consigo escapar, mas me espanta a cara de pau demonstrada por alguns. Não passa de falsidade hipócrita.
Sinceramente, prefiro a companhia da família e dos amigos dos doze meses do ano. Seria muito melhor se todos assim o fizessem, já que não sabem agir de forma adequada de janeiro a novembro.

5 Replies to “Está aberta a temporada anual de hipocrisia”

  1. Migão, o tema da kms de páginas e depoimentos….

    .
    Concordo com muita coisa, final de ano há verdadeiras farpas em formas de abraços e sorrisos.

    Há uma frase, do ator Selton Mello (se a memória não me falha)diz mais ou menos assim: ” Nessas festas natalinas, em meio ao cunhado X, a prima Y, o que é falado, é justamente o que não está sendo dito”
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    hilariante, pra ficarmos num termo sem mais delongas…

    rsrsrsrs

  2. Estou plenamente de acordo (raro isso, por aqui, hein? hehehehehe – brincadeira).

    Mas é verdade. Época de Natal é um festival de aparências. Pra mim o Natal é uma data apenas simbólica para o comércio faturar um trocado a mais – até pq segundo fontes seguras, se Jesus realmente existiu, deve ter nascido em março.

    Então no Natal temos pinheiros com uma “neve” fictícia, renas, trenó e Papai Noel vestido para enfrentar temperaturas abaixo de zero da Lapônia….

    É época também de encarar a chatice de receber parentes que você não vê há seculos, ter que fazer uma “social” para trata-los bem (quando no fundo, vc queria ve-los pelas costas!). É ter que agradar a todos, sorriso forçado, você doido pra comer aquele bacalhau que esta no forno e ir se deitar pra ver um bom DVD…

    Todo mundo fica bonzinho na epoca do Natal. Nos outros 364 dias do ano, vc come o pão que o diabo amassou, mas no dia 24 (ou 25) não: vc é bem-quisto, vc é O CARA.

    Isso sem contar que tem que receber 560 emails dizendo “Boas festas”.

    Bom mesmo é o ANO NOVO: vc vai pra onde quer, vê os fogos, faz o que quiser e na companhia de quem quiser (isso pra quem AINDA é solteiro, como eu) rs.

    PS – Agora mesmo, perto da janela da minha casa tem um vizinho que tá fazendo festa de fim de ano com os amigos: gritaria, bebedeira e eu tendo que aturar.

    Tudo em prol do “BOM E VELHO ESPÍRITO NATALINO”…

  3. Fabrício, pelo menos Natal e Ano novo eu tenho ficado com as pessoas de que gosto. Mas dia 02 de janeiro, como que por enquanto, os fdps voltam a ser fdps.

    Talita, você resumiu bem o espírito da coisa.

  4. Estava há pouco falando sobre isso… essa capacidade que o Homem – mais até o brasileiro – tem de, num passe de mágica, se tornar bom no final do ano. É como se houvesse um processo de renascimento, com a virada do calendário tudo se modifica. As pessoas, por total conveniência, se tornam amigas, respeitadoras, cordatas, tudo em nome do “espírito natalino”…

    Haja paciência, hein?

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