Domingo, dia de publicar bons textos aqui no Ouro de Tolo.
Hoje, coloco aqui texto do amigo Rodrigo Mattar, jornalista do Sportv e dono do blog “A Mil Por Hora”, um dos nossos favoritos. O belo texto faz uma análise do momento da Fórmula 1 e das mudanças que levaram ao quadro atual.
Acrescento ao texto uma idéia: de que, como parceiras, as montadores são bem vindas – como nos Anos 80. Não como donas do negócio.
A foto é da Tyrrell P-34, de 1977, um dos projetos de seis rodas e que, inclusive, obteve vitórias na categoria.
Vamos ao texto, publicado originalmente sexta feira no “A Mil por Hora”:
“Boa tarde leitores e leitoras. Após uma manhã na rua, fritando num calor senegalesco, agora o blogueiro desfruta das delícias do ar condicionado da redação do Sportv, convidando todos vocês pra uma reflexão sobre o momento que passa a Fórmula 1. Especialmente após a saída da Toyota e dos crescentes rumores de que a Renault pode seguir o mesmo caminho até o fim do ano de 2010.

Tudo isso que a categoria viveu, este processo de quatro escuderias caindo fora num espaço inferior a dois anos, sendo três montadoras – Honda, BMW e Toyota – além de um “time B”, a Super Aguri, deve ser imputado às mazelas da administração de Max Mosley à frente da FIA, deixando um senhor abacaxi para seu sucessor – Jean Todt, eleito com o apoio do britânico – descascar.

É bom lembrar que no início dos anos 90, assim que assumiu a entidade, ele e Bernie Ecclestone tentaram fortalecer a Fórmula 1 dando um tiro fatal no Grupo C. O antigo Mundial de Esporte Protótipos, com seus carros potentes e sensacionais, foi assassinado pela FIA quando o regulamento daquele campeonato foi equiparado à F-1, numa tentativa de fazer montadoras como Mercedes-Benz, Toyota e Peugeot se bandearem para o outro lado.

A Sauber, com apoio dos alemães, foi a primeira a chegar em 1993, um ano antes da Peugeot. A Toyota entrou em 2002, mas passou um ano inteiro fazendo treinos com um carro-laboratório. Todas as três investiram pesadas somas e só a Mercedes sobrevive na categoria.

Nessa mesma época, meados dos anos 90, a FIA aumentou de forma cruel a caução que as equipes tinham de pagar para se inscrever a cada temporada, limitando também a “franquia” para 12 equipes e 24 carros. Os valores saltaram de US$ 300 mil para absurdos US$ 48 milhões – três vezes mais, por exemplo, do que gastavam Forti Corse, Lola e Minardi na época. A arrogância deu certo, porque espantou os times menores. Alguns tiveram morte natural e outros sucumbiram ao dinheiro, feito a Tyrrell, comprada pela British American Tobacco.

Um por um, saíram de cena os “garagistas”, como Giancarlo Minardi, Ken Tyrrell, Gérard Larrousse, Guy Ligier, Beppe Lucchini, Keith Wiggins, Jackie Oliver e Eddie Jordan – só pra citar os que a memória ainda recorda. Até Paul Stoddart pode ser incluído no rol: ele detinha a propriedade da Minardi e a vendeu para Dietrich Mateschitz, da Toro Rosso, em sociedade com Gerhard Berger.

Em meio à sanha das montadoras, sobraram apenas três nomes com passado 100% ligado ao automobilismo: a Ferrari, embora seja de propriedade da Fiat desde 1973, é fruto da paixão sem limites de Enzo Ferrari, o lendário Commendatore morto em 88. Os outros dois são Ron Dennis e Frank Williams. E hoje, apenas Frank carrega solitário a bandeira dos garagistas.

Mas é bom saber que em 2010 ele talvez não esteja só. Com a vinda de equipes feito a Campos, por exemplo, resgata-se a ideia da velha e boa Fórmula 1 dos anos 70, onde com exceção de Matra, BRM, Ferrari e depois da Alfa Romeo, bastava às equipes – predominantemente inglesas – construir seus carros com motores Ford Cosworth e caixa de câmbio Hewland.

Saíam receitas vencedoras. Projetos fracassados, também. Mas foi assim que conhecemos gente como Morris Nunn, Teddy Yip, John Surtees, Ron Tauranac, Tony Southgate, Lord Alexander Hesketh, Harvey Postlethwaite, Maurice Philippe, David Baldwin, Ralph Bellamy, Mike Pilbeam, Günther Schmidt, Gustav Brunner, Rory Byrne, Brian Hart, Ted Toleman e outros com os quais tomamos intimidade com o passar dos anos.

Este texto pode parecer – e é – saudosista. Sei que os tempos são outros, que sem dinheiro na Fórmula 1 nada funciona. Mas um componente que nenhuma montadora vai ter, especialmente pelo automobilismo, uma vez que investir no esporte é nada mais do que pura e simplesmente business, essa turma garagista tinha de sobra.

Paixão.

É preciso reacender – já – essa chama. Senão mais uma vez poderemos ver a Fórmula 1 refém de sua própria sorte no futuro e deixando pilotos de grande talento, como o japonês Kamui Kobayashi, na rua da amargura.”

One Reply to “Reacender a chama – já !”

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