Bom, como escrevi no tópico anterior, Lula optou por um cálculo político arriscado, mas que ao final das contas parece ter sido um lance bem sucedido. 

Quero falar agora do contra-ataque do presidente, que foi a questão do pré sal e do lançamento dos projetos de lei do marco regulatório da exploração de petróleo. 

Voltemos no tempo. Antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2006, a campanha de reeleição do presidente Lula fez a comparação entre as estatais no governo dele e no anterior. Insinuou que Alckmin privatizaria o Banco do Brasil e a Petrobras, entre outras estatais – e o estado em que estavam as empresas no início de 2003 corrobora estreitamente este raciocínio.

Alckmin sentiu o golpe e se deixou fotografar com uma jaqueta repleta de adesivos de estatais e boné do Banco do Brasil (foto). No final das contas, a proposta tucana de privatizações e a foto em questão acabaram sendo decisivas para o tucano receber menos votos que o primeiro turno: inicialmente porque parcelas da classe média indecisas, lembradas da prática adotada no governo anterior, voltaram a Lula. Depois porque genuínos defensores da proposta tucana se decepcionaram com o seu candidato.

Inclusive repercuti aqui um texto do Rodrigo Vianna sobre o assunto, onde ele faz pertinentes comentários sobre o tema. 

Voltando ainda mais no tempo, lembro aos meus 22 leitores que na ocasião da quebra do monopólio da Petrobras as vozes do governo diziam que a empresa era um fardo para o Estado. O marco regulatório do modelo de concessão foi adotado com o explícito propósito de reduzir a influência da empresa e tirar do debate sobre o petróleo a questão geopolítica. Era o petróleo reduzido a uma commoditie.

Não custa lembrar que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi toda preenchida, à época, com diretores francamente hostis à companhia. Ainda hoje, em minha avaliação, há um ranço anti-Petrobras na ANP.

Bom, os leitores deste Ouro de Tolo devem estar pensando: “onde o Migão quer chegar ?”

Simples.

Quando começaram a se avolumar as descobertas na camada pré-sal, ficou claro que o modelo atual de commoditie não era adequado para se lidar com o tema. Segundo entrevista do Diretor de Exploração e Produção da Petrobras, que reproduzirei proximamente aqui, não é exagero pensar em reservas recuperáveis de 100 bilhões de barris. Isso colocaria o Brasil como a quarta reserva mundial de petróleo.

Ainda mais após a Guerra do Iraque, era a geopolítica voltando com força total. O Brasil passa a ser um player fundamental neste quebra cabeças mundial. O modelo de partilha de produção e o novo marco regulatório vêm atender a isso, devolvendo ao Estado posição de comando sobre o tema.

Por que, então, o título deste post ? Porque Lula “emparedou” o PSDB/DEM a partir do momento que as oposições não só defenderam o modelo mercadista atual como passaram a representar sem disfarces os interesses das empresas estrangeiras de petróleo. 

O discurso passa a ser o seguinte: “eles estão contra o Brasil”. Não deixa de ser verdade a partir do momento em que observamos os discursos do Senador Sérgio Guerra, por exemplo, e de outros como o Deputado Rodrigo Maia. 

Lula apropriou-se do discurso nacionalista e reedita a campanha “o petróleo é nosso”. Está colando na opinião pública, apesar das inverdades ditas por boa parte da imprensa, que “nós somos a favor do Brasil e eles são contra”. 

Os líderes da oposição preceberam isso. Tanto que, ao contrário da postura inicial de rejeitar todas as leis enviadas ao Congresso e obstruir a pauta, os líderes do PSDB já falam em aprovar o marco regulatório proposto, “desde que sejam respeitados os interesses das empresas privadas”.

Um caso clássico de entregar os anéis para perder os dedos. O governo colocou a oposição em uma situação em que, ou ela sai desta postura de ser “contra o país”, ou vai perder as eleições de novo ano que vem. A agenda política, neste momento, está girando muito em torno desta questão. Sarney e os políticos tornaram-se secundários diante da questão do petróleo e da importância que a utilização destas reservas trará ao futuro nacional.

Da forma como vai se colocando a questão, a eleição ano que vem será em bases absolutamente plebiscitárias. A oposição já percebeu isso e está tentando sair da arapuca em que foi metida. 

Só que a bola está com Lula.

4 Replies to “Lula contra-ataca”

  1. Acho que “desde que sejam respeitados os interesses das empresas privadas” é o melhor termo que se pode chegar.

    No caso, a questão do interesse nacional é maior. E da forma descrita, apesar de confuso, no final as empresas que tenham direito de investir no pós-sal terão o direito daquilo que lhes interessa: petróleo.

    O risco é o modelo degenerar e o modelo virar uma Bolívia, onde a Petrobrás investiu cerca de 1 bilhão, foi taxada em 90% para poder produzir e explulsa de lá. Onde Lula permitiu o índio botá-lo de 4 (um parênteses: Morales abriu as portas para que o Equador – que se a Odebrecht – ou Camargo Correa, não lembro – fez a obra errada deve processá-la e puni-la, não deixar de pagar o que deve – e o Paraguai – Itaipu – façam o que quiser hoje, mais a defesa da condição de economia de mercado da China sem contrapartidas, pois vale tudo – interna e externamente – pelos seus interesses que são de governo, não necessariamente de Estado, e essa é a grande falha da política externa dele. Política hegemônica, sim, mas a que custo? O de tornar a vida da classe média brasileira um inferno maior? Ele quer porque quer ressuscitar impostos…), fazendo o que quer com a gente. Num continente onde temos Chaves, Morales, Correa, Kirchner e Garotinho (os dois últimos: macho e fêmea) tudo é possível. Mas regulamentado de forma correta, o modelo proposto é um modelo semelhante ao da Noruega, não? O único absurdo seria criar uma nova estatal, quando a Petrobrás é uma empresa plenamente capaz de lidar com o desafio, desde que corretamente capitalizada para o tamanho do investimento e teríamos a ANP (o governo já colocou corruPTos em todas as agências, porque não nesta?) para controlar a concessão. E se a questão é chamar o investimento, porque não de fora, desde que respeitando nosso melhor interesse?

    Aliás, ninguém fala nos impostos nossos de cada dia…

  2. Bom, acho que a rede daqui voltou.

    Eu escrevi três textos sobre o pré sal e o modelo de partilha aqui no Ouro de Tolo, dá uma olhada que deixa de estar confuso.

    O modelo que está se propondo é semelhante ao da Noruega, e a nova estatal, enxuta, se faz necessária porque o Estado não detém 100% da Petrobras.

    p.s. – Quanto ao Evo mOrales, na prática ele fez o que o mundo inteiro faz, talvez de forma atabalhoada. Mas, se formos olhar sem paixão, ele não está muito errado não nesta questão. O “ficar de quatro” tem uma questão jurídica aí, depois lhe explico.

    p.s.2 – com todos os defeitos do lula, acho a oposição ainda pior. Tenho calafrios só de pensar em FHC, César Maia e cia tomando conta deste petróleo todo…

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