Canção do Subdesenvolvido
(Chico de Assis / Carlos Lyra)
“O Brasil é uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Em lindas tardes de abril
Correi pras bandas do sul
Debaixo de um céu de anil
Encontrareis um gigante deitado
Santa Cruz, hoje o Brasil
Mas um dia o gigante despertou
Deixou de ser gigante adormecido
E dele um anão se levantou
Era um país subdesenvolvido
Subdesenvolvido, subdesenvolvido, etc. (refrão)
E passado o período colonial
O país se transformou num bom quintal
E depois de dadas as contas a Portugal
Instaurou-se o latifúndio nacional, ai!
Subdesenvolvido, subdesenvolvido (refrão)
Então o bravo povo brasileiro
Em perigos e guerras esforçado
Mais que prometia a força humana
Plantou couve, colheu banana..
Bravo esforço do povo brasileiro
Que importou capital lá do estrangeiro
Subdesenvolvido, subdesenvolvido… etc. (refrão)
As nações do mundo para cá mandaram
Os seus capitais desinteressados
As nações, coitadas, queriam ajudar
E aquela ilha velha ajudou também
País de pouca terra, só nos fez um bem
Um grande bem, um ‘big’ bem, bom, bem, bom
Nos deu luz, ah! Tirou ouro, oh!
Nos deu trem, ahhh! Mas levou o nosso tesouro
ooooh! Subdesenvolvido, subdesenvolvido… etc. (refrão)
Houve um tempo em que se acabaram
Os tempos duros e sofridos
Pois um dia aqui chegaram os capitais dos…
Estados Unidos
País amigo desenvolvido
País amigo, país amigo
Amigo do subdesenvolvido
País amigo, país amigo
E nossos amigos americanos
Com muita fé, com muita fé
Nos deram dinheiro e nós plantamos
Nada mais que café
E uma terra em que plantando tudo dá
Mas eles resolveram que a gente ia plantar
Nada mais que café
Bento que bento é o frade – frade!
Na boca do forno – forno!
Tirai um bolo – bolo!
Fareis tudo que seu mestre mandar?
Faremos todos, faremos todos…
E começaram a nos vender e a nos comprar
Comprar borracha – vender pneu
Comprar madeira – vender navio
Pra nossa vela – vender pavio
Só mandaram o que sobrou de lá
Matéria plástica,
Que entusiástica
Que coisa elástica,
Que coisa drástica
Rock-balada, filme de mocinho
Ar refrigerado e chiclet de bola
E coca-cola! Oh…
Subdesenvolvido, subdesenvolvido… etc. (refrão)
O povo brasileiro tem personalidade
Não se impressiona com facilidade
Embora pense como desenvolvido
Embora dance como desenvolvido
Embora cante como desenvolvido
Lá, lá, la, la, la, la
Êh, êh, meu boi
Êh, roçado bão
O meior do meu sertão
Comeram o boi…
Subdesenvolvido, subdesenvolvido, etc. (refrão)
Tem personalidade!
Não se impressiona com facilidade
Embora pense, dance e cante como desenvolvido
O povo brasileiro
Não come como desenvolvido
Não bebe como desenvolvido
Vive menos, sofre mais
Isso é muito importante
Muito mais do que importante
Pois difere os brasileiros dos demais
Pela… personalidade, personalidade
Personalidade sem igual
Porém… subdesenvolvida, subdesenvolvida
E essa é que é a vida nacional!”
Temos um parque industrial relativamente pujante, a fome embora ainda seja um problema grave do país diminuiu muito de tamanho nos últimos anos e começamos a ter um mercado interno capaz de solidamente sustentar a economia nacional.
Entretanto, a pergunta que eu faço a meus 20 leitores é a seguinte: somos realmente um país independente ?
Penso que o Brasil avançou neste sentido nos últimos anos, em especial de 2003 para cá; porém acredito que tenhamos ainda um longo caminho a percorrer.
Caminho a percorrer não só em termos de políticas econômica, externa e militar, mas, principal e especialmente, na mentalidade das elites dirigentes do país.
Um bom exemplo deste último comentário são as críticas ferozes que a diplomacia brasileira vem sofrendo internamente por manter uma política externa de afirmação no cenário mundial e de liderança entre os países emergentes.
Nesta visão, representada pela imprensa conservadora, o país deveria se alinhar automaticamente aos interesses norte americanos.
Só que uma independência de fato significa ter um papel absolutamente autônomo em termos mundiais. Fazer alianças sim, aliar-se automaticamente, não. Ter uma economia forte e que não dependa da exportação de produtos primários. Ser autosuficiente em termos energéticos e promover uma política de bem estar para o povo. Possuir força militar suficiente para a defesa dos interesses nacionais. Acima de tudo, colocar o interesse nacional em primeiro plano.
Acredito que, hoje, a festa da Independência é simplesmente uma data; todavia, o caminho percorrido nos últimos anos, se não interrompido, pode dar-nos condições de alcançar um estágio de realtiva independência e importância mundial.
Para isso a velha elite americanófila precisa ser contida.