
Neste livro, o autor John Perkins retoma alguns dos temas do livro anterior e tenta buscar soluções para as questões apresentadas.
O livro é dividido de acordo com os continentes em que ele visitou após o lançamento do ‘Confissões’.
Na primeira parte, sobre a Ásia, ele toca em um ponto muito sensível à nossa sociedade consumista: que produtos de marcas como Adidas, Nike e outras são fabricados com trabalho praticamente escravo. Um pesquisador que foi viver na Indonésia com o salário de um trabalhador destes (US$ 1,25 ao dia!) emagreceu 11 quilos em um mês, alimentando-se basicamente de arroz.
Os funcionários podem ir ao banheiro apenas duas vezes por dia, e muitas mulheres, quando menstruadas, acabam se utilizando de camisas largas para esconder as manchas de sangue nas calças. Absolutamente cruel.
Também conta sobre o massacre no Timor Leste, apoiado pelos americanos, e como as grandes empresas lucraram com o Tsunami de 2004. Ainda perpassa pela questão tibetana.
Na segunda parte, América Latina, fala-se de pistoleiros na Guatemala, questões de eletricidade e água na Bolívia – e a crueldade desnecessária no dia do pagamento das contas. Por outro lado, ele observa a série de governantes eleitos com discurso anti-americano, saúda como uma revolução contra a corporatocracia e as consequências de tal fato para os Estados Unidos.
Também menciona uma conversa que teve durante o Fórum Social Mundial de 2005 com um alto assessor do governo brasileiro – ele não revela, mas tenho a impressão de que era o José Dirceu – em que este revela que “Lula tem um esqueleto, e só vocês podem nos ajudar”. Coincidência ou não, logo depois estourou o escândalo do mensalão.
Terceira parada é o Oriente Médio, onde ele desenvolve questões relacionadas ao dólar e às consequências de sua atuação como assassino econômico.
Retoma o tema na parte sobre a África, e chama a atenção para a guerra no Congo, (ex-Zaire) que permite celulares e computadores mais baratos. Estas peças dependem de um mineral chamado coltan, que só existe lá. Também critica veementemente o trabalho das ONGs por lá, afirmando que estão a serviço da dominação.
Na parte final ele tenta apresentar idéias para romper este ciclo de dominação e mudar o mundo. Entretanto, achei um tanto quanto frágeis as premissas práticas que ele lança.
Entretanto, queria transcerver um pequeno texto deste segmento, que é bem importante:
“Nós também devenos ter coragem. E generosidade. E precisamos estar dispostos a pagar mais pelos diamantes e pelo ouro, pelos laptops e pelos celulares – e a insistir em que os mineiros tenham salário justo, atendimento de saúde e seguro – e a pagar mais também por mercadorias feitas em fábricas que não explorem seus funcionários, mas os tratem com justiça. Precisamos dirigir automóveis menores e mais econômicos, reduzir o uso total de energia e o consumo em geral e proteger os ambientes naturais e a diversidade das espécies que os habitam. É imprescindível que nos conscientizemos de que cada ato nosso e cada produto que compramos tem impacto sobre outras pessoas e os locais em que elas vivem; coletivamente, nossos estilos de vida determinam o futuro que nossos filhos e netos herdarão.” (pp. 302)
O curioso é que o prefácio da edição brasileira é assinado pelo jornalista Heródoto Barbeiro – que escreve que não concorda com o que está no livro !
No Submarino tem do livro para pronta entrega. Recomendo.
Próxima resenha: “Cães de Guarda”, de Beatriz Kushner.