A cerveja é a prova evidente de que Deus nos ama e nos quer ver felizes (Benjamin Franklin)

Quem sabia das coisas mesmo era Hammurabi, o rei da Babilônia, que viveu em mil setecentos e cacetadas antes de Cristo e Oscar Niemeyer. Ao elaborar um rigoroso código de leis, o Mumu da Babilônia criou uma cacetada de regras sobre um tema de grande relevância para o homem universal – o consumo da cerveja.

Saibam os senhores que o Código de Hammurabi estabelecia, como dever público, a obrigatoriedade do fornecimento diário de cerveja ao povo. Um trabalhador braçal receberia do Estado a cota básica de 2 litros por dia; um funcionário público, 3 litros; os sacerdotes e administradores, 5 litros para o consumo mínimo diário. O Estado se comprometia com o fornecimento dessas modestas cotas. O resto era por conta da sede do cidadão.
Hammurabi também elaborou regras para punir os produtores de cerveja de baixa qualidade. A pena aos responsáveis pela produção da má cerveja era simples e de grande sensibilidade diante do momentoso tema: morte por afogamento.
Já no Egito quem entendia do babado era o faraó Ramsés III, mais conhecido como o cervejeiro. O homem era um copo da maior categoria. Basta dizer que em certa ocasião, ao resolver dar um presentinho aos sacerdotes do Templo de Amón, doou aos cabras 466 mil e tantas ânforas de cerveja provenientes de sua cervejaria particular, pedindo escusas pela modéstia da quantidade ofertada. Isso dá aproximadamente 1.000.000 [um mihão] de litros da bebida. É mole?
Os gregos e romanos, meio afrescalhados e chegados numa viadagem entre filósofos, artistas e rapazolas, preferiam o vinho. A velha cerva, entretanto, continuou sendo a bebida predileta de povos dominados pelos romanos, como os gauleses e germânicos. A elite de Roma achava que cerveja era bebida de bárbaros incultos. Tácito, uma bicha louca, ao descrever os germanos mencionou a cerveja como a bebida horrorosa fermentada de cevada ou trigo.
Entre o povo da curimba, o meu povo, a cerveja é fundamental. Ogum, meu pai, é chegado numa cerveja. Quem quiser agradar ao guerreiro pode colocar uma cervejinha na mata, no caminho ou numa estrada de ferro. Xangô gosta mais de uma cerveja preta – que pode ser colocada numa pedreira ou ao lado de um dendezeiro. Exu gosta de qualquer coisa que tenha álcool – basta colocar a água que o passarinho não bebe na esquina, saudar o compadre e o dia tá garantido.
Sempre me recordo, durante epifanias etílicas, da frase proferida em certa ocasião pelo escritor e meu camarada Alberto Mussa. Em pleno Al-Farábi, o templo cervejeiro da Rua do Rosário, Mussa garantiu que a criação da cerveja é um feito civilizacional no mínimo similar à criação do livro. Maurício, o taberneiro maldito que nos entope de geladas das mais variadas no Alfa, chorou ao ouvir a sentença.
Cada vez entendo mais  por que é que o Kalevala – a magnífica epopéia nacional da Finlândia, que conta as façanhas do bardo Vainamoinem e do ferreiro Ilmarinen, heróis do povo – tem mais recitativos sobre a origem da cerveja do que sobre a origem do homem. É que sabiam das coisas, aqueles cabras valentes do fim da terra.
É com reverência, enfim, que dedico esse arrazoado aos meus amigos de copo. O homem justo bebe cerveja como quem reza, reza com o fervor amoroso de quem toma umas geladas com os do peito no boteco da esquina e sabe que ninguém faz amizades tomando leite em balcão de padaria.
Saravá!

9 Replies to “CERVEJA É HISTÓRIA, CIVILIZAÇÃO E MACUMBA”

  1. SALVE!

    Lindo post! Respeitoso e dedicado!

    Sou vice-presidente da associação brasileira de degustadores de cerveja (www.abradeg.com.br) e queria saber seu contato pois a associação está preparando uma série de eventos para reavivamento da cultura cervejeira NACIONAL. Você disse neste post muito do que estamos tentando demonstrar aos consumidores (de belgas, alemãs…).
    Sendo assim gostaria de combinar alguns copos.

    meu contato: pedro@abradeg.com

  2. O post é bom mas muito preconceituoso, né não?
    Quem lê pensa que na Grécia antiga só existiam gays…

    Menos, menos…

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