O circo da Fórmula 1 consegue unir de forma impressionante meninos mimados, babacas, bundões e gangsters da pior espécie. É a imagem bem acabada do que há de pior na sociedade de consumo: o culto ao dinheiro, a veneração pelo carro, as artimanhas da propaganda, o individualismo, o poder das grande empresas, a vulgarização do corpo feminino, a ética perversa de que os fins justificam os meios, o desperdício e o banditismo dos bacanas.
Já escrevi alhures que uma maldição legada pelo rodoviarismo dos Anos JK ao Brasil é o culto desmedido ao automóvel como símbolo de status social. Essa glamourização do carro e da velocidade, além de matar aos montes no trânsito, transformou meninos mimados do automobilismo em heróis nacionais, aventureiros destemidos e outras bobagens. O malufista Airton Senna – o amigo do Galvão Bueno que considerava os carros seus melhores amigos – dava voltinhas balançando a bandeira do Brasil depois das corridas e consagrava esse patriotismo tacanho com cheiro de gasolina.
Recentemente os fãs da Fórmula 1 se decepcionaram com o piloto Felipe Massa – um yuppie com jeitinho de playmobil metrossexual – que abriu mão da vitória em uma corrida em nome dos milhões de dólares que recebe da Ferrari. Cumpriu o contrato, entregou a vitória a Fernando Alonso e encheu mais um pouco o cofrinho com as verdinhas. Faz parte do negócio.
O mais recente capítulo dessa farsa grotesca aconteceu na corrida seguinte. A Rede Globo, os anunciantes das transmissões das corridas, as empresas patrocinadoras da babaquice sobre rodas e outras redes mafiosas acusaram o golpe da desmoralização de Massa. O Brasil é um mercado precioso demais para os sicofantas das corridas de automóvel. Direitos de transmissão são negociados por fortunas, contratos milionários estão em jogo e a lógica das máfias é não perder nunca. Com a pantomima protagonizada pelo rastaqüera da Ferrari, piscou o alerta: e se o público brasileiro começa a largar de mão a palhaçada e a audiência das corridas vai para as cucuias? Temos que garantir o dindim, ora pitombas.
Eis que a grande mídia esportiva brasileira resolve, então, reconquistar o público – acabrunhado com as picaretagens da Comando Vermelho da Ferrari – transformando uma disputa entre Rubens Barrichello e Michael Schumacher [por um pífio décimo lugar] em um evento de proporções épicas. Imagens de Schumacher fechando Barrichello foram repetidas exaustivamente. Rubinho foi tratado como um paladino da justiça e gênio do esporte, derrotando o jogo sujo do alemão e reafirmando a habilidade do brasileiro ao volante de uma banheira de gasolina.
A lógica é evidente: criemos o fato novo e heróico que varrerá para debaixo do tapete as cafajestagens do automobilismo e garantirá a audiência nas próximas corridas. É grana alta em jogo. Quem não tem cão, camarada, caça com gato. Rubinho é, de súbito, o restaurador do arrojo, do jogo limpo, do bem vencendo o mal, da emoção que a Fórmula 1 proporciona e outras babaquices do gênero.
É disso, enfim, que é feito o paraíso de asfalto dos sibaritas infantilizados – poderosa metáfora sobre rodas do herói capitalista, individualista, empreendedor, destemido, desonesto e, sobretudo, bunda mole.
Abraços
descobri recentemente que adoro automobilismo. logo, parei de assistir esta merda!
perfeito Simas,,,,voltou das férias em grande forma ..abraços
Acarlos
Fala Simas!
Eu nunca perdi meu tempo com corridas de Fórmula 1, ou qualquer tipo de corrida motorizada, sobre 4 ou 2 rodas!
Concordo plenamente com tuas palavras.
Que legal rever o Playmobil!
Simas esse troço não é esporte nem aqui nem na China!
Abraço!
Que bom que voltou Simas! Estava com saudade dos seus textos.
Beijos
Muito bom texto. Mas, peraí, não foi o Rubinho que deixou o alemão passar outro dia mesmo?
frank
Logo o Rubinho, que anos atrás fez a mesma coisa que o Massa.
Belo texto. Vou passar o link para meus amigos.
Gosto da F1. Me lembra os torneios “tele-catch” que assistia na TV quando criança. A mesma armação.
Abraços
Helvécio
Voltaste em alto estilo. Parabens pela acidez.
Abraço do seu leitor do Piauí,
Olá, cheguei aqui através do terapia zero, da anna v, gostei muito do seu texto, seu estilo claro e firme, sem frescura, e altamente informativo. Adoraria ler uma análise parecida sobre as mazelas do mundo futebolístico, vou pesquisar no blog, quem sabe ela já existe.
um abraço,
clara lopez
Adoro a F-1. Quando é transmitida aos domingos de manhã então…, que sensação gostosa é poder ficar na cama dormindo até mais tarde depois de chegar de madrugada, com a consciência tranquila por saber que na tv, não estou perdendo porra nenhuma!
Em tempo: Fico a imaginar um puta pega entre rubinho e massa, um atacando o outro defendendo ferozmente a 23a. posição na pista. E claro, com o galvão se esguelando no microfone. Ixe, proibidaço para cardíacos. Né não?!
Grande Simas,
As férias te fizeram muito bem e seu retorno deu-se de forma a deixar qualquer puxa saco da fórmula de cara no chão… Valeu o comentário, assina embaixo e ainda recomendarei aos amigos a leitura. Saudações!
Evandro