O sujeito sente que está prestes a dobrar o cabo da Boa Esperança quando um adolescente fala algo do tipo vi Malhação ontem e a pergunta que ocorre é: – Quem foi o Judas? É o meu caso. Fui criança em um tempo em que malhação não era levantar peso em acadêmia ou novela debilóide de televisão. Era, tão somente, enfiar a porrada, no sábado de Aleluia, em um boneco representando o Iscariotes.
Passava as semanas santas da minha infância em Nova Iguaçu. Sábado de Aleluia, para mim, vinha sempre com a expectativa da malhação do Judas e da reabertura do terreiro de encantaria da minha avó. A casa tocava para Oxóssi e os caboclos no dia de São Sebastião – 20 de janeiro – e só reabria os trabalhos com a oferenda a Exu e o toque de levantar a Aleluia. Coisas do sincretismo fabuloso das crenças do Brasil.
Acho que o Judas que mais malhei na minha vida foi Ramón Quiroga. Aos esquecidos: Quiroga foi o goleiro da seleção peruana no jogo Argentina 6 X 0 Peru, durante a Copa do Mundo de 1978. A Argentina precisava de uma diferença de quatro gols para se classificar para a finalíssima, eliminando o escrete brasileiro. Quiroga – que era argentino naturalizado peruano – teve uma atuação ridícula. Tomou uns frangos bíblicos e bye bye Brasil. Foi, por causa disso, devidamente malhado na Aleluia de 1979. Entrou no cacete.
Hoje é dia, portanto, de enfiar o pau no Judas. Aqui no Rio é forte candidato ao cargo de traídor do ano o deputado Ibsen Pinheiro, da emenda do petróleo. Não me entusiasma e tem tudo para ser um Judas mixuruca. O ex-governador Arruda, curtindo uma cana, também não me apetece. O ideal é que cada um, democraticamente, tenha o sacrossanto direito de enforcar seus próprios demônios e algozes, zerar a raiva e curtir, pacífico feito um bem te vi, uma boa Páscoa.
É o que desejo.
Só me ficou a dúvida de quem seria o seu Judas em 2010…
Simas, eu que já avisto a curva do cabo da Boa Esperança, entendo perfeitamente o seu sentir.
Quando criança, eu e meus irmãos esperávamos ansiosos pela malhação do Judas. Era uma espécie de ritual. Um ano, meu pai foi o Judas da vez. Ele era síndico do prédio, e, sabe como é, síndico é uma figura antipatizada, sempre. Acho que ele ficou um pouco triste, pelo que me recordo, mas soube entender a brincadeira.
Simas, aqui na zona norte do Rio não basta só escolher um Judas, tem também a lista com os maiores fofoqueiros do ano e suas principais calunias soltadas ao ar….