E lá está ela.. abandonada, triste, maquiagem misturada às lágrimas…. ninguém a quer…
Usaram, abusaram… e agora?
A Portuguesa acaba de consumar o capítulo mais triste de sua quase centenária história. De maneira espúria, quase bandida, foi rebaixada ao brasileiro da Série C e pior, a D parece mais perto que um retorno digno à B. E agora?
O início disso tudo? O já tão comentado caso do STJD? Também… mas não só ele… a burrice e a sem-vergonhice reinam nas alamedas do querido Canindé. Nesse momento a Lusa, por justiça , deveria estar jogando a terceira série A . Cerca de 75 milhões de reais irrigando o caixa do clube e produzindo o prometido pela linda campanha da “Barcelusa” de 2011. (Três anos ficando na A e recomeçando os investimentos pesados). O pão estava quentinho. E agora?
Nascida em agosto de 1914, numa reunião de comunidades portuguesas de São Paulo a Lusa fez de sua história um paralelo aos imigrantes rubro verdes. Com muito suor e vontade, prosperou na cidade mais rica do país. Nos anos 70, fez um estádio às margens do Tietê, onde nunca ninguém achou que ia ganhar fácil. Formaram esquadrões fantásticos que passaram por ali. Nos anos 30, após se livrar da fusão com o Mackenzie a Lusa liderou um movimento separatista que dividiu o futebol paulista. Nos anos 50, com nove jogadores rubro–verdes , a seleção paulista venceu o campeonato brasileiro de seleções. No maior time da história jogaram, Djalma Santos, Julinho Botelho, Brandãozinho, Pinga, Simão e Ipojucan. Minha mãe sempre me contava, que meu avô Pompeu ao saber da goleada em cima do coirmão do Parque São Jorge por 7 a 3 em 1951, pegou uma cadeira, uma aguardente, salames cortadas em foi para a porta de casa cumprimentar um a um os fregueses do Armazém Inca. História recheada de emoção hoje… e agora?
Nos anos seguintes, Marinho Perez, Enéas, Luís Pereira, Zenon, Roberto Dinamite vestiram o pavilhão rubro verde e aqui já vem uma curiosidade que muito explica o escárnio das administrações recentes. Dinamite foi trocado por batatas, cebolas e coisas negociadas com um Joaquim Heleno e o presidente do Vasco à época, Calçada. Li isso na Placar. Julgo ser verdade. A Portuguesa sempre teve base forte. Formava muitos garotos bons de bola o que garantia o sustento do clube, assim como sua famosa lista de associados que nos 80 beirava os 80 mil. Corria nos corredores do clube que de domingo à tarde tinha mais gente na piscina do que no estádio. Muitas meninas de biquíni iam dar uma olhada no jogo para delírio dos Leões da Fabulosa, do Império Rubro Verde e da famosa bandinha de músicas da terrinha que não parava um minuto; e agora?
Os anos de ouro . Os 90 chegavam e a Portuguesa montou bons times. Revelou Dener ao mundo. Um garoto que faria o que Neymar faz hoje, acredite… Ganhou os dois turnos do Paulistão de 95 e fez boas campanhas no brasileiro por quatro ou cinco anos seguidos, com destaque para 96, 97 e 98. O Canindé estava sempre cheio. Em 96 disputando títulos. Que grande noite… Achei que o meu pai ia morrer do coração. Assistiu ao jogo com Grêmio em pé. Não deu… Tenta de novo, oras. Era tudo que o torcedor queria. Uma parceria com a falida Círio, que envolveria novamente gente da diretoria, chegou a ser anunciada e Edmundo seria a estrela. Grandes tempos. E agora?
A Portuguesa é um feudo. Famílias de vaidade gigante disputam o poder como se fosse uma reunião das padarias paulistanas. Aliás, é recorrente na arquibancada que gostariam que eles administrassem seus negócios como o fazem no clube. A parte social está podre. A vida moderna da metrópole colaborou? Sim. Mas nem tudo. A burrice é sistemática e de futuro promissor ali. Em 2011 o time fez linda campanha da Série B. Apelidado de Barcelusa, goleou vários bons times. O Canindé mais uma vez enchia toda semana. Famílias inteiras iam ser felizes por 90 minutos da vida. Crianças vestiam verdes e vermelhas. E agora?
Nesses últimos dias conversei com gente que frequenta a arquibancada. Gente que sobe na grade para xingar, para aplaudir. Na alegria e na tristeza estão lá… Sim é um casamento… Muitos estão tão perplexos pelo futuro certo que nem chorar agora há pouco conseguiram. Como um doente terminal anunciado, a Lusa hoje só conseguiu gerar dó e pena. Todos defendem a imediata renúncia da pulha que ocupa a presidência e a terceirização do futebol para conseguir um folego. Medidas criativas para manter um mínimo faturamento com a paixão do que restar de torcida.
O Fim? Muita gente defende o afastamento da Portuguesa das atividades do futebol, para tentar guardar naquele cantinho empoeirado do museu suas pequenas e inesquecíveis glórias. Outros pensam que nunca acabará… Fazendo uma linha da famosa frase do torcedor e maestro João Carlos Martins: “se um dia eu vir na várzea uma camisa da Portuguesa, saibam que estarei ali na grade gritando pelo meu amor”. O sentimento de coração partido parece ser esse. Caiu? Levanta, oras. Não é assim que uma mãe fala pro filho. Hoje as esperanças estão pequenas. O túnel parece não ter luz. Com essa gente lá parece não mesmo. E agora?
Nos próximos dias , os Higino, os Abílio , os Teixeira os Camarinha, os Gomes , os Nicola , os Affonso , os São Pedro , os Manuéis , os Nascimento , os Joaquins , os Lage , os Burgos , os Magalhães e às vezes os Braz estarão órfãos. Faltarão palavras para descrever. Talvez até acompanhadas de algumas lágrimas. Tristeza sincera. Tristeza eterna. Que um dia, a Cruz da Ordem de Avis, eternizada pro Dom Afonso Henriques na batalha de Aljubarrota volte a brilhar, com força. Não parece ser esse o caminho, mas no período da treva, uma faísca às vezes pode ajudar…. e agora?
Agora eu quero lembrar o que minha mãe falava… O meu tio…. O meu pai… Os meus amigos… Porque se eu lembrar do dia do meu aniversário de 40 anos. vai ser difícil continuar…
Eterna Lusa…
Emerson,
Em primeiro lugar, quero dizer que se trata de um excelente texto. Amor verdadeiro que, por mais dificuldades que encontre para o prazer, não se desfaz com as adversidades.
Trata-se o futebol de uma atividade cujas contas não fecham mais. Pior. Sempre negativas, no vermelho, devendo, “no pindura”…chame como quiser. E, para afundar de vez, se já não bastasse o altíssimo custo assumido pelos clubes para a manutenção de um Departamento de Futebol, ainda levam à reboque alguns Dirigentes que, atribuem-se o direito, implícito, claro, de ser agraciado com um trocadinho. Afinal de contas, nem relógio trabalha de graça.
Esquecem-se, porém, que o relógio combinou com o seu dono que se não lhe colocar baterias ou lhe der corda, não trabalhará. O empregado combinou com o patrão que se não receber o seu salário, não trabalhará. Mas o dirigente combinou com o clube que trabalhará sem receber por isso. Mas não cumpre com o combinado. Casos e mais casos vazam todos os dias pelos meios do futebol.
Ladrões! Tiraram todo o leite da vaca. Quando o leite acabou, cortaram uma veiazinha o pescoço e beberam o sangue. A pobre está morrendo. Ou tiram esses parasitas de lá ou…em breve enterraremos mais essa vaca.
Maravilhoso texto
Valeu Villar..