Essa semana escrevi para o SRZD uma coluna de muita repercussão chamada “Lá vem Portela em busca do sonho”. Como eu disse, a coluna teve muita repercussão e o Pedro Migão pediu que escrevesse aqui uma coluna sobre a Portela.
Lá eu escrevi sobre o ensaio de quarta, ensaio de comunidade que eu fui e a expectativa com o carnaval 2015.
Para quem não leu, contei que a atmosfera na escola é de grande ansiedade. Nada de salto alto ou euforia. As pessoas, tanto dirigentes quanto componentes, sabem que não será fácil. Acredito que seja o carnaval mais nivelado dos últimos anos, sendo impossível para dizer as seis do Desfile das Campeãs.
Temos a Mocidade com Paulo Barros subindo de patamar, a Tijuca que não sabemos como virá sem seu carnavalesco famoso, a Vila tentando se recuperar do desastre do ano passado, Mangueira ainda tentando se levantar (sem trocadilhos) e Ilha e Imperatriz tentando mostrar que ano passado não foi sem querer.
O fato da São Clemente com excelente enredo e bom samba enfrentar a Viradouro com sua força de bandeira e samba diferente faz também a disputa que se imagina embaixo ficar interessante.
Muitas expectativas. Muitas dúvidas. Mas ninguém gera tanta ansiedade quanto a “Majestade do Samba”.
A Portela é a maior campeã do carnaval, são 21 conquistas, mas desde 1970 não vence um carnaval sozinha. Em 1980 venceu empatada com mais duas escolas e em 1984 venceu um dos dias do carnaval. Naquele ano tivemos a campeã de domingo e de segunda.
Se formos considerar que em 1970 a Portela tinha 19 títulos e hoje 35 anos depois tem 21 e está longe de ser alcançada vemos o poder e a força histórica dessa agremiação.
O problema é que tudo estava sendo resumido à tal força histórica. Sem presente e expectativa de futuro. A Portela nunca deixou de ser respeitada, mas deixava de ser temida. Nenhum postulante ao título se preocupava mais quando a Portela estava na avenida. Gerações de sambistas foram nascendo e se criando sem ver a Portela brigar pra valer por um campeonato. A exceção foi 1995. Muito pouco para sua história.
Esse ano marca os dez anos de uma das maiores humilhações que a tradicional escola de Madureira passou. A sua imponente e sempre motivo de orgulho águia desfilou sem asas e isso foi apenas um dos grandes equívocos e desastres de um desfile que culminou com a velha guarda impedida de desfilar para que a agremiação não estourasse o tempo.
O mundo inteiro viu consternado as imagens da Tv Globo que mostrava aqueles velhinhos tão importantes para a nossa cultura chorando porque foram impedidos de desfilar. Aquelas cenas me deram um nó na garganta e lacrimejei. A Portela, humilhada, escapou do rebaixamento graças à sua dissidência, que caiu em seu lugar. Ser salva pela Tradição era a suprema humilhação.
Vieram terceiros e quartos lugares depois que nem foram tão marcantes e sempre deram a sensação que se fosse uma escola organizada poderia mais. A Portela não passava confiança. Endividada, tendo luz cortada, barracão sempre atrasado e perdendo profissionais por falta de pagamento, a escola sofreu outra humilhação quando seu barracão pegou fogo em 2011.
A humilhação de perceberem que, mesmo perto do carnaval, não tinha nada pronto. A humilhação de perceber que aquele incêndio até pôde ter ajudado a escola de uma humilhação maior na avenida. Pela primeira vez na história a grande campeã passou pela avenida como “café com leite”.
A coisa começou a mudar no ano seguinte. Continuava bagunçada, mal comandada, mas escolheu o “Barcelona dos Sambas” como apelidei na época. O “Madureira sobe o Pelô”, samba da parceria de Luiz Carlos Máximo já faz parte da história do carnaval e só foi escolhido graças a abnegados que começaram a mostrar sua luta e amor pela Portela através de um site – o Portel@Web e cada vez ganhavam mais força dentro da agremiação.
Aquele processo culminou com a união desses jovens com o lendário sambista Monarco, com o integrante da Velha Guarda Serginho Procópio e com o policial e amante do samba Marcos Falcon. Em meados de 2013 assumiram o comando da Portela e a partir dali a escola renasceu.
A Portela de hoje em nada lembra a escola que barrou velha guarda ou se salvou com um incêndio. A batalha ainda é árdua, muita coisa a se consertar, mas a Portela voltou a ser temida, a figurar entre as favoritas do carnaval. Não só isso. A escola se modernizou, se profissionalizou. Hoje sabe explorar sua marca e tem projetos audaciosos. De seu tamanho.
Essa mudança de postura já foi notada no último desfile, quando a agremiação ficou em terceiro e não seria nenhum absurdo se tivesse vencido. Hoje a Portela é considerada favorita ao título junto com a Beija-Flor.
Nunca o 22° esteve tão próximo.
Todos os portelenses vivos e mortos vivem essa ansiedade. Com certeza Paulo, Natal, João, Clara e outros receberam Dodô e comentaram o quanto o céu vive a expectativa do complemento dessa retomada. A cereja do bolo. A consagração da velha Portela no novo carnaval.
Porque nada mais é que isso. Não existe nova Portela. Essa é simplesmente a velha Portela que está de volta. No canto emocionado de seu componente e no respeito máximo à sua história.
Salve ela.
Que maravilha esse relato é simplesmente perfeito emocionada. Chorei lendo cada sentença e mais ainda por fazer parte dessa história. Sempre acreditei na Portela por sua bela história que hj resgatou sua dignidade. Obrigado.
Obrigado Elizabeth. Só posso dar os parabéns a vocês pelo ressurgimento
Lindo comentário. Emocionante. Sou um portelense fanático. Nunca vi a Portela ganhar. É um sonho. Não para dizer que temos 22 títulos, mas, para dizer”minha escola não vive só de glórias passadas, está forte e sabe fazer carnaval”. Esse ano se ganhar será em homenagem a tia Dodô. Parabéns pela matéria.
Isso aí Assis. parabéns pela escola que torce e boa sorte no carnaval. Obrigado pelas palavras
Todo ano que a Portela faz um carnaval decente é fica em uma boa colocação no ano seguinte ela é apontada como a favorita absoluta . calma gente favoritismo e conquistado depois do desfile , vcs já deviam saber disso , pois são mais de trinta anos de fila