Dizem que para o rubro-negro o dia 3 de março é Natal porque o maior jogador da história do clube nasceu nesse dia. É a data de aniversário de Arthur Antunes Coimbra, de Zico. O que falar então de 13 de dezembro de 1981? É o dia da Independência?
Pode ser, porque nessa data a “nação”conquistou o mundo e se fez não só conhecida como respeitada por todo planeta. Dia histórico em que Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior, Andrade Adílio e Zico, Tita, Nunes e Lico deram um banho de bola como poucas vezes o mundo viu até hoje, principalmente em jogo de tamanha importância. Curioso esquadrão que é recitado por rubro-negro de qualquer idade, mesmo os que nasceram muito depois e que só jogou junto quatro vezes. Uma das vezes em 13 de dezembro de 1981.
Tive a felicidade de ver um pouco desse histórico esquadrão. Lembro de acompanhar pela Rádio Nacional e o fim do jogo pela Globo (Na época em finais de campeonato só passavam os últimos minutos para a praça local) a partida Flamengo 3 x 0 Santos pela final do Brasileiro de 1983, curiosamente a última partida da Era de Ouro do Flamengo, já que Zico logo após foi para a Udinese. Lembro só de flashes do jogo de 1981, lembro que estávamos no apartamento de familiares da namorada de meu tio na Zona Sul do Rio e da partida lembro nada do “ao vivo”, mas graças à tecnologia qualquer um pode hoje assistir a essa partida. Eu já vi várias vezes e fiz questão de no dia 13 de dezembro, quando essa conquista fez 35 anos assistir novamente. Já vi tanto que até decorei algumas falas do Galvão Bueno – sim, era ele o narrador.
O Flamengo pegou um timaço naquela tarde no Estádio Nacional de Tóquio, o Liverpool de três títulos da Copa dos Campeões da Europa, equivalente hoje a UCL, em cinco anos. Para vocês terem uma noção, nem o Barcelona do Messi ganhou três em cinco anos. Aliás, é bom quebrar algumas lendas antis nesse momento. O Liverpool não foi convidado para o lugar do campeão europeu que não quis ir, era sim o campeão, os argentinos disputaram, sim, a Libertadores de 1981, caindo na primeira fase, até porque não era a Mãe Dinah a presidente da CONMEBOL para excluir argentinos da Libertadores de 1981 por causa da guerra das Malvinas, que ocorreu em 1982 e por mais que detratores chamem a competição hoje de “Copa Toyota”, todos os times quiseram muito ganhar. Curioso o Vasco ter praticamente aberto mão do Brasileiro de 1998 e ficado semanas em Tóquio se preparando para disputar um “amistoso de jipe” como costumam desdenhar hoje.
Desculpem, mas desdenhar é recalque, só desdenha quem não venceu. Os são-paulinos talvez tenham mais orgulho dos títulos de 92 e 93 que de 2005, o gremista tem muito orgulho de 83 e os santistas de 61 e 62, então é evidente que o rubro-negro também tem que ter. O Flamengo foi apenas o segundo time brasileiro a ganhar o Mundial, apenas o Santos de Pelé havia conquistado e essa é sim a maior conquista da história do futebol carioca.
O rubro-negro tem muito orgulho, sim, e talvez seja o que mais fale do seu Mundial e tem vários motivos para isso. Por, como eu disse, ser apenas o segundo brasileiro a vencer, pelo esquadrão praticamente feito em casa que é considerado um dos maiores times de futebol de todos os tempos, pela acachapante vitória na qual fez um primeiro tempo dos sonhos, tratando um tricampeão europeu como se fosse o Bonsucesso.
Não foi sofrido, não foi uma batalha épica, não sofreu um bombardeio sendo o goleiro o craque do jogo, Raul mal tocou na bola. É assombroso pensar o que o Flamengo fez com o Liverpool ainda mais vendo como é o futebol atual em que o europeu é muito superior ao sul americano que hoje se complica até com os japoneses como o Nacional, disparado melhor time sul-americano de 2016, que perdeu de forma acachapante para o Kashima Antlers.
Além disso tudo evidente que tem a carência rubro-negra. Depois da Era de Ouro, ainda vieram títulos como os Brasileiros de 87, 92 e 2009, as Copas do Brasil de 90, 2006 e 2013, e vários Estaduais, mas muito pouco. O rubro-negro foi se acostumando em ser coadjuvante, em brigar contra o rebaixamento e se segurou como se fosse em um galho de árvore no oceano repetindo o mantra “time grande não cai” para ainda se convencer que era protagonista.
Está na hora dos heróis de 81 descansarem. Está na hora do Flamengo ter outras conquistas importantes, outros heróis para dividirem o”peso” com a geração de ouro. Parece que o clube busca por isso e pela primeira vez desde que lhe acompanho, o Flamengo é vanguarda como era em 1981. Está saneando suas dívidas, arrecadando cada vez mais e mais de forma condizente a seu tamanho, acabou de inaugurar um CT de primeiro mundo, voltou a brigar por títulos brasileiros de verdade, não no susto como em 2009 e promete uma temporada de 2017 muito interessante.
Não sei se as glórias voltarão em 2017. Ao contrário dos teóricos da conspiração que tiraram os argentinos da Libertadores devido uma guerra que ocorreu um ano depois, não tenho o dom da premonição. Mas o caminho é esse, se não for em 2017 uma hora vai pintar e acho que o Flamengo nunca esteve tão perto de reviver seu grande período quanto agora.
Está na hora, como eu disse, dos heróis descansarem e novos serem feitos. O CT inaugurado, não por coincidência em 13 de dezembro de 2016, trinta e cinco anos depois do Mundial, teve seu terreno comprado com o dinheiro da venda de Zico. Agora vamos finalmente ter a certeza se a venda valeu a pena ou não.
Mas enquanto isso…
Arigato, Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Junior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Lico, Carpegiani.
Arigato, Flamengo!
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