Nesta sexta feira a coluna “Sabinadas”, do jornalista esportivo Fred Sabino, nos fala sobre a recente vitória de Tony Kanaan em um dos eventos mais importantes do automobilismo mundial: as 500 Milhas de Indianápolis.
O maior dia de Tony Kanaan
Independentemente da minha profissão, sempre fui um apaixonado por esporte. E, evidentemente, esse amor foi importante para que eu me decidisse pelo jornalismo esportivo. É claro que quando se começa a trabalhar para valer, cai aquele mito em relação a alguns atletas que você admira e você vê que não são caras tão legais assim.
Mas a vitória de Tony Kanaan nas 500 Milhas de Indianápolis, no último domingo, me deixou duplamente feliz. Primeiro, pelo lado profissional, porque bons resultados dos pilotos brasileiros sempre ajudam a aumentar o interesse das pessoas. Mas fiquei feliz, mesmo, pelo cara que é o Tony. Muito feliz.
O Tony eu já admirava desde a época em que eu nem sequer havia entrado na faculdade. Gostava do estilo dele, aguerrido e com poucos erros, e o achava um sujeito simpático nas entrevistas, sempre com boas respostas para qualquer pergunta. Mas dois momentos em especial já haviam me feito vibrar com Tony.
O primeiro, na quase milagrosa vitória nas 500 Milhas de Michigan de 1999, quando ele chegou a estar uma volta atrás devido a danos na carenagem – a equipe Forsythe resolveu o problema no melhor estilo Nascar, com silver tape! – e no fim contou com a falta de metanol de Max Papis a metros da linha de chegada.
O segundo, claro, na conquista do título dele na Indy em 2004, com uma campanha extraordinária, na qual ele simplesmente completou todas as voltas de todas as corridas. Num momento em que na Fórmula 1 Rubens Barrichello, seu grande amigo, lutava mas não conseguia bater Michael Schumacher na Ferrari, era um alento.
Nessa época, no entanto, eu já trabalhava no Grupo LANCE! e me mostrava cético em relação a atletas em geral, devido a algumas decepções. Não tanto com o pessoal do automobilismo e esportes olímpicos, mas principalmente com os jogadores de futebol. De qualquer forma, era um ceticismo.
Naquela fase, por morar no Rio de Janeiro e ocupar o cargo de editor do LANCENET!, ainda não tinha tanto contato com os pilotos. Mas, no fim de 2008, finalmente pude conhecer Tony Kanaan em um almoço em São Paulo, antes da decisão da Stock Car vencida por Ricardo Maurício. E não me decepcionei com Tony.
Tony conversou com todos numa boa antes das entrevistas individuais e depois atendeu pacientemente um a um. Na minha vez, Tony respondeu sem pressa a todas as perguntas, fez algumas piadas como de costume e, no fim, ainda ficou batendo papo. Meu ceticismo estava vencido.
E, nos anos seguintes, seja nos já tradicionais Kanaan Kart Days, nas etapas da Indy em São Paulo ou mesmo nas 500 Milhas de Indianápolis, as quais tive o privilégio de cobrir in loco em 2012, Kanaan sempre foi muito bacana comigo, tanto no pessoal como no profissional – como diria aquele famoso apresentador.
Falar também do lado profissional e guerreiro de Tony é chover no molhado. Ainda jovem, perdeu o pai e dormiu em caminhões de equipe quando tentou a sorte na Itália. Sem patrocínio, não se envergonhou em tentar a sorte nos Estados Unidos e acertou na mosca.
Depois de brilhar na equipe Andretti por anos, a separação foi repentina: Tony quase ficou sem carro para a temporada de 2011. Mas, em cima da hora, o baiano fechou com a KV Racing, do ex-campeão da Indy Jimmy Vasser e de Kevin Kalkhoven. Conseguiu um pódio logo na estreia, mas a equipe se mostrou ainda verde (literalmente, porque o carro era verde naquele ano…) para voos mais altos.
No ano passado, Tony ganhou a companhia de Barrichello no time. A KV evoluiu, Tony fez alguns pódios, mas erros de estratégias e de pit stops minaram a chance de uma possível briga pelo campeonato. Até porque, convenhamos, Penske e Ganassi sempre foram bem mais estruturadas e experientes.
Aí veio 2013. Tony começou com problemas a temporada. E o 12º lugar no grid de largada das 500 Milhas não era tão animador, embora, numa prova como essa, tudo sempre pudesse acontecer. E Tony, com perícia, acertou bem o carro para o tráfego, sempre um drama em Indy. Escalou o pelotão e se colocou na briga pela vitória.
Na última relargada, a três voltas do fim, Tony mostrou a maestria de sempre na pilotagem com pneus frios e jantou o campeão Ryan Hunter-Reay. A batida de Dario Franchitti ajudou, é verdade, mas Tony, brincalhão como sempre, disse que ensinaria ao novato Carlos Muñoz umas lições caso a corrida tivesse seguido em bandeira verde até o fim.
Não, enganam-se aqueles que pensam que foi uma declaração presunçosa. Foi apenas mais uma brincadeira de alguém que aos 38 anos continua fazendo o que ama e ainda de forma muito competitiva.
Espero que por vários anos ainda.